AVOADA ERMENGARDA

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A Ermengarda, nos seus vinte anos, apesar de ter conseguido completar o Ensino Médio às duras penas, não é muito bem servida de neurônios. E os poucos que tem, invariavelmente costumam falhar, o que gera muita gozação por parte da família e dos amigos. Certa vez, ficou sabendo que a padaria do bairro onde mora, o Campos Elísios, estava precisando de uma atendente. Foi lá ver se conseguia a vaga porque queria comprar um celular novo, daqueles cheios de triques-triques. O proprietário informou que era um salário-mínimo, mas que mais para frente poderia ser aumentado. Ela respondeu:

– Então eu volto daqui uns meses.

Noutra certa vez, um casal vicentino apertou a campainha. Ermengarda atendeu e ouviu o casal perguntar se os moradores daquela residência poderiam contribuir para a Vila Padre Alaor. Ela respondeu:

– De velho aqui só tem a mamãe e tenho certeza que ela não vai querer morar lá.

Num domingo, Ermengarda estava varrendo o passeio em frente à casa. Veio um homem pobre, carente – que hoje com o progresso do Brasil se fala que está em situação de vulnerabilidade social – e pediu qualquer coisa para comer, mesmo que fosse pão de uma semana. Ela respondeu:

– Nós já tomamos café e o pão acabou, mas vou comprar mais pão hoje e então o senhor passa aqui domingo que vem.

Adiante no tempo, já nos seus 25 anos de idade, Ermengarda estava trabalhando na cozinha de uma das empresas do Distrito Industrial II quando foi chamada para atender uma ligação telefônica de um tio, pois era vedado aos funcionários usar o celular durante o trabalho. Os colegas se assustaram quando ela prostrou-se ao chão em total desespero, vertendo cachoeiras de lágrimas e gritando freneticamente:

– Minha mãe morreu, minha mãe morreu, minha mãe morreu…

Foi uma correria danada, muitos em volta dela amparando-a, e Ermengarda, entre altos soluços e lágrimas, foi se acalmando. Não passou um minuto e outra ligação telefônica para ela. Com o apoio dos colegas, ela foi levada até o aparelho. E tudo se repetiu: ela prostrou-se ao chão em total desespero, vertendo cachoeiras de lágrimas. Mais uma correria danada, muitos em volta dela amparando-a, e Ermengarda, entre altos soluços e lágrimas, vertendo cachoeiras de lágrimas, clamou:

– É muita coisa ruim, é muita coisa ruim, não mereço isso…

Os colegas suplicaram para que ela esclarecesse. E ela respondeu:

– Por que tudo isso agora acontecendo comigo?

– Mas o que, Ermengarda? – perguntaram angustiados os colegas.

– Minha irmã acabou de me informar que a mãe dela também morreu.

Foi um custo a Ermengarda se recuperar do trauma. Mas conseguiu e seguiu em frente.

* Texto: Eitel Teixeira Dannemann.

* Foto: Montagem de Eitel Teixeira Dannemann sobre foto publicada em 01/02/2013 com o título “Casa do Hugo – 1”.

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