CIDADE INVADIDA PELO CAPIM

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TEXTO: J. G. CAIXÊTA DE QUEIROZ (1926)

Ahi estamos com o Carnaval portas a dentro… e o deus Momo já exige alguma cousa da natureza: que as estrellas brilhem, que o sol não se esconda e que na cidade as ruas se engalanem, despindo-se de uma vegetação incommoda, hirsuta… (DOS JORNAES)

Resolveu, afinal, a nossa mui illustre edilidade atacar o serviço de limpeza das ruas desta Cidade.

Foi um louvável expediente, pois todos os nossos visitantes, ignorando, talvez, o desvello com que se fazem os serviços publicos, poderiam suppor ter a nossa urbs se transformado numa grande invernada, tal o mattagal que invadiu o largo da Matriz e muito de nossas principaes ruas¹.

E não seria só a impressão de supporem a cidade uma invernada, mas a de pensarem que em Patos não houvesse uma administração cheia de devotamento á causa publica, o que seria talvez uma grave injustiça feita a homens que muito se têm sacrificado pelo progresso do municipio².

Esse descuido de terem deixado crescer o capim nas ruas deve ser relevado em vista dos melhoramentos feitos nos districtos, cujos habitantes, sinceramente gratos á politica dominante, não sabem como agradecer tanta cousa em troca de mui suaves impostos…

Não censuremos, portanto, a demorada limpeza das nossas ruas, mas recordemo-nos de que ahi isto é uma ninharia deante dos grandes empreendimentos que hão de recommendar perennemente ás gerações futura os actuaes detentores do governo municipal.

* 1: Enquanto isso, em plena década de 2020, o visitante não supõe, ele sente cruelmente nos tímpanos a zoeira de motos e carros com som, sabedor o visitante que não há homens do poder público aqui para nos livrar disso, nós moradores e os coitados dos visitantes. Nas cidades de porte como a nossa, Patos de Minas, se não do Brasil, com certeza é a mais barulhenta de Minas Gerais. Afinal, onde o poder público é ausente, a zorra é quem manda!

* 2: Diferentemente, hoje o visitante, tendo que suportar a barulheira de motos e carros com som, e ainda a de carretas arrebentando a Rua Major Gote e outras do Centro, têm certeza absoluta que o poder público não tem devotamento algum à causa pública e à saúde dos Contribuintes.

* Fonte: Texto publicado com o título “Até que emfim…” na edição de 14 de fevereiro de 1926 do Jornal de Patos, do arquivo do Centro de Documentação e Memória do UNIPAM.

* Foto: Um dos parágrafos do texto original.

* Edição: Eitel Teixeira Dannemann.

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