PELO NOSSO PLANEJAMENTO URBANO

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TEXTO: OSWALDO AMORIM (1983)

“Todo mundo gosta de acarajé./Mas o trabalho que dá/…”. Diz uma canção de Caymmi. E eu digo: todo mundo gosta de ruas e avenidas largas e praças amplas e belas. Mas quem cuida de construí-las ou de assegurar a sua construção? Creio que essa é uma tarefa que deve ser executada pelo poder público. Deixá-la para os loteadores particulares é mais ou menos como confiar ao lobo a guarda das ovelhas.

Por pior que seja o planejamento realizado pelo poder público, ele é quase sempre melhor do que o feito por particulares. O motivo principal está na motivação: enquanto o poder público, em princípio, visa o interesse público, o empresário particular visa precipuamente o lucro. E para aumentá-lo, muitos não hesitam em sacrificar o interesse público, estreitando ruas e avenidas, apequenando ou eliminando praças de seus projetos, para multiplicar os lotes e, por conseguinte, os lucros.

Na verdade, é exatamente isso que vem acontecendo em Patos há várias décadas, com incalculáveis prejuízos para o nosso bom desenvolvimento urbano. Daí, como disse no último artigo, o feitio moderno da parte antiga e o feitio antigo da parte moderna da cidade, em termos de arruamento.

Por isso, estou absolutamente convencido − e, em consequência, tento convencer a todos − de que o interesse público, na área urbanística, deve ser resguardado pelos poderes federal, estadual e municipal − sobretudo o último que, afinal, é quem de fato decide.

Sem qualquer sombra de dúvida, é mil vezes preferível que a Prefeitura, através de seu corpo de arquitetos, engenheiros e topógrafos, sob a orientação de um urbanista, se adiante à iniciativa particular e projete a expansão da cidade, de forma a assegurar aquilo por que há tanto me bato: o crescimento ordenado e inteligente de Patos.

Mas ninguém se iluda: isso só é possível com a prefeitura planejando o crescimento da cidade sempre na dianteira dos loteadores.

Ficar a reboque dos loteadores, como tem acontecido, acarreta uma somatória de problemas insolúveis ou de difícil solução, como a escassez de avenidas e praças na parte nova de Patos e, mais recentemente, a desordenada proliferação de conjuntos habitacionais em torno da cidade.

Na verdade, ninguém pode ficar contra a construção de Conjuntos Habitacionais, que realizam o sonho da casa própria para um sem-número de pessoas. Mas para o bem da cidade (ou do bom ordenamento de sua expansão) e dos futuros habitantes nos novos conjuntos, impõe-se o disciplinamento da construção desses núcleos habitacionais − cujos moradores não devem ser alocados excessivamente longe do centro nem afastados dos equipamentos indispensáveis à vida urbana, como Escolas, Igrejas, Supermercados, Farmácia, Bares, Campo de Esporte, Cinemas etc.

Daí a conveniência de se agrupar esses conjuntos em determinadas áreas, previamente delimitadas, em vez de deixar que eles se espalhem tumultuariamente pela cidade, como está acontecendo em Patos. Num grande conglomerado habitacional, esses equipamentos surgem prontamente, pelo estímulo do forte potencial de consumo representado pelo conjunto de moradores.

A concentração também facilita e barateia o atendimento do poder público, em termos de ligação das redes de água, luz, esgotos e telefones, a construção de Escolas, Posto de Saúde, acessos viários asfaltados, e a urbanização de Praças e Campos de Esportes.

Quanto mais espalhados os conjuntos, mais difícil, ou deficiente o atendimento, em termos de melhorias e equipamentos públicos − e mesmo de equipamentos de natureza privada, como Mercearias, Açougues, Farmácias, Restaurantes, Bares, Salões de Barbeiro, Oficinas de conserto de Sapatos, Rádio e Televisão e serviços de Bombeiro, Eletricista etc.

O ideal é que a Prefeitura promova um amplo planejamento, num ângulo de 360 graus num raio bastante longo para abarcar duas ou três vezes a população atual. É imperioso, por exemplo, que o planejamento se estenda além do “Trevo da Pipoca”, pois ali pode estar o embrião da nova Patos de Minas.

Exagero? Hoje, pode ser. Mas é bom lembrar que há vinte anos, por exemplo, ninguém acreditava que a cidade um dia pudesse transpor o Ribeirão da Fábrica. Pessoalmente, acredito nas nossas imensas possibilidades de desenvolvimento, sobretudo se se concretizar a expansão de Patos como grande entroncamento rodoviário − com a abertura de novas rodovias e a potencialização das existentes − e a expansão do promissor programa de Cidade-Dique que, afortunadamente, nos inclui.

Terra boa e gente boa é o que não nos falta para isso.

* Fonte: Texto publicado no n.º 69 de 15 de maio de 1983 da revista A Debulha, do arquivo de Eitel Teixeira Dannemann, doação de João Marcos Pacheco.

* Foto: Do arquivo da Fundação Casa da Cultura do Milho, via Marialda Coury.

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