O pai falou ao filho:
– Procura aquele meu amigo que mora no Bairro Boa Vista. Uma vez ele precisou de mim e eu lhe estendi a mão. Portanto, vá lá amanhã que é domingo, pois durante a semana é difícil falar com ele, e faça o que eu lhe disse. Vamos ver se ele é capaz de retribuir.
No domingo de manhã, o filho pegou a moto, chegou à Praça Madri, Avenida Afonso Queiroz e logo depois entrou à direita chegando a uma casa de dois andares com um belo jardim à frente. Neste, um sujeito de uns sessenta e poucos anos estava dando um trato no ambiente vegetal. O jardineiro, com certeza.
– O senhor Malacacheta está? – perguntou o rapaz.
– Meu jovem, o que você deseja com o Sr. Malacacheta?
– Meu pai é o André, amigo do Sr. Malacacheta, e ele disse para eu vir aqui conversar com o Sr. Malacacheta para ele me arranjar um emprego. Será que eu consigo falar com ele?
Lá foi o jardineiro falar com o Sr. Malacacheta. Voltou com a resposta:
– O Sr. Malacacheta quer saber qual seria a reação do seu pai se ele não lhe arranjar o emprego?
– Papai falou que, em nome dele, era para eu mandá-lo à PQP!
Foi novamente o jardineiro falar com o Sr. Malacacheta e voltou com a informação para o jovem comparecer no outro dia à empresa. Lá, o jovem se apresentou, foi levado a um salão onde estava havendo uma confraternização e apresentado ao Sr. Malacacheta. O rapaz ficou pasmo: o jardineiro era o Sr. Malacacheta. No meio de uma turma de empresários, o jardineiro falou:
– Meu jovem, filho de meu amigo André, queira repetir aqui aos meus parceiros de negócios o que o seu pai lhe orientou a dizer a mim se por um acaso eu não lhe arranjasse um emprego.
O jovem encarou todos aqueles em volta do Sr. Malacacheta, empresários bem-sucedidos que só pensavam em seus lucros, se lixando para o que quer que fosse a não ser qualquer ação que se transformasse em lucro, ruminando na mente o que seu pai lhe havia informado sobre o tanto que foi útil ao Sr. Malacacheta, ele, o rapaz, numa clássica sutileza, simplesmente respondeu:
– Sr. Malacacheta, fica então valendo aquele nosso encontro no jardim de sua casa quando eu pensei que você era o jardineiro.
O jovem se retirou, os presentes não entenderam bulhufas, mas o jardineiro e o pai do jovem entenderam perfeitamente.
* Texto: Eitel Teixeira Dannemann.
* Foto: Montagem de Eitel Teixeira Dannemann sobre foto publicada em 01/02/2013 com o título “Casa do Hugo – 1”.