De vez em quando acontecem fatos pitorescos na Feira do Produtor, ao lado da Rodoviária, que funciona nas manhãs de sábado. E não de vez em quando, mas sempre, tem gente muito pitoresca que frequenta o local. Assim como também tem muitos produtores rurais que lá comercializam seus produtos que são mais pitorescos que os compradores. Um deles, produtor de melancia, tinha − porque ele sumiu de lá − uma mania da qual não abria mão: só vendia seu produto inteiro e fim de papo, comprava assim quem quisesse. Certa vez, uma senhora bem trajada queria comprar uma metade. O jovem atendente da banca respondeu:
– Desculpe, senhora, só vendemos a melancia inteira.
Pra que! A senhora queria porque queria comprar apenas a metade da fruta e danou a falar que tinha o direito de comprar só a metade e por aí foi. O jovem, então, explicou à senhora que precisava pedir autorização ao dono da banca para partir a fruta ao meio. Não adiantou:
– Deixa disso, rapaz, eu já falei, tenho o direito de comprar apenas a metade da melancia e vou comprar apenas a metade da melancia. Vamos logo, parta a melancia.
Sem saber o que fazer, o atendente olhava para tudo quanto era lado na esperança de ver o patrão. E nada do patrão. E a senhora apertando:
– Gente do céu, será que vou ter que chamar a polícia?
O rapaz, já irritado, felizmente avistou o patrão acabando de atravessar a Avenida Piauí caminhando em direção à feira. Que alívio, ele não perdeu tempo e foi ao seu encontro. A senhora, que considerou aquela “fuga” uma tremenda falta de respeito, foi atrás dele sem o outro perceber. Chegando ao patrão, foi logo rasgando o verbo:
– Tem uma velha coroca toda esticada me enchendo o saco, querendo comprar meia melancia…
Nesse exato momento ele sentiu a presença da senhora. Numa perspicácia surpreendente, completou a frase:
– … e a outra metade quem vai levar é essa distinta, simpática e elegante senhora aqui.
Evidente, o negócio foi fechado!
* Texto: Eitel Teixeira Dannemann.
* Foto: Montagem de Eitel Teixeira Dannemann sobre foto publicada em 02/02/2013 com o título “Avenida Paracatu na Década de 1920”.