ATEU GEMEDOR DA LAGOA DO PATÃO, O

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Nos idos tempos em que a hoje conhecida Lagoa do Patão tinha um belo espelho d’água e uma mata ciliar que a mantinha saudável, havia algumas pequenas propriedades rurais em seu entorno. Era bastante razoável a movimentação de gente em seus carros de boi, carroças e equinos usados para levar as produções agrícolas até a longínqua Cidade. A lagoa era piscosa e frequentada por vários tipos de aves que lá se alimentavam e se reproduziam, além de pacas, tatus, cotias e muito mais.

Nos idos anos de 1960, um dos moradores da região, descrente de Deus e useiro e vezeiro em pronunciar a palavra diabo, constantemente ouvia dos vizinhos:

– Cuidado, de tanto você pronunciar o nome do tinhoso, um dia ele te pega.

De nada adiantava, o homem, em qualquer mínimo aborrecimento, invariavelmente soltava em voz alta um diabo. Certo dia nublado e propenso a um tremendo temporal, por volta das seis horas da tarde, lá vinha ele montado em sua garbosa égua pela tosca estrada que margeava a lagoa, quando, de repente, sem nenhum motivo aparente, o animal empacou. Imediatamente veio:

– Diabo, anda égua do diabo!

À base de muita cutucada de espora, a égua caminhou alguns metros e empacou novamente. E lá veio impropérios:

– Sua égua do diabo, para com essa frescura!

Mais cutucadas de espora e mais alguns metros caminhados e outra empacação. E outros xingamentos:

– Égua maldita do diabo!

Foi então que o cavaleiro ouviu uma sinistra voz:

– Se pronunciar meu nome mais uma vez, te pego!

Se o homem não acreditava em Deus ia acreditar em capeta? Ele logo imaginou que alguém escondido lhe caçoava e mandou ver:

– Sua égua do tinhoso, te furo toda se parar novamente.

E ela parou. E veio:

– Sua filha do Satanás, vou…

O homem não completou a frase, pois o diabo em pessoa surgiu à sua frente dizendo:

– Se você afirma categoricamente que essa égua é minha, deduzo que você também é meu.

Homem e égua foram arrastados para dentro da lagoa e sumiram. Durante muitos anos, naquele horário, quem passava pelo local ouvia os gemidos do homem pedindo clemência ao diabo, jurando que nunca mais pronunciaria o seu nome em vão, fato que, a partir de 1975, com a chegada do Posto Patão, foi diminuindo concomitantemente com o desaparecimento das águas da lagoa, até se encerrar definitivamente. Entretanto, alguns afirmam que não é bem assim, que quem se dispuser a sentar à beira da lagoa às seis horas da tarde e acreditar no diabo, vai ouvir os gemidos.

* Texto: Eitel Teixeira Dannemann, coletado na comunidade de Lanhosos.

* Foto: Montagem de Eitel Teixeira Dannemann sobre foto de rfitaperuna.com.br.

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