ACIDENTE DO SEU ALFREDO, O

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O relógio marcava oito e meia da manhã quando a Zenaide recebeu um telefonema informando que seu pai havia sofrido um acidente de carro e que estava internado no Hospital Regional. Moradora no Bairro Cônego Getúlio, em questão de cinco minutos já estava ao lado do Seu Alfredo. Quando o viu com uma perna engessada e um baita curativo na cabeça se desesperou, mas a enfermeira a acalmou, pois fora a fratura e o profundo corte na testa ele estava bem. Zenaide não perdeu tempo em ficar sabendo o que tinha ocorrido:

– Pai, o que houve, fiquei sabendo que o senhor capotou a camionete perto da antiga Ponte do Rio Paranaíba, como foi, conta logo.

Seu Alfredo segurou a mão da filha, respirou fundo e disse:

– Filha, o cumpadre Bastião pediu emprestada a minha égua Siriema e então fui no sítio com a camionete pegar ela e quando eu passava por aquele trevo antes da ponte um fedazunha dum caminhão entrou também e me pegou em cheio de banda e se mandou nem querendo saber o que tinha acontecido. Aí, não consegui controlar a camionete, ela rodou e capotou. Com muita dificuldade, consegui sair e sentindo uma dor terrível na perna e o sangue escorrendo na testa. Saí me arrastando e quando vi a coitada da Siriema toda estrupiada e gemendo de dor na beira da estrada, danei a chorar… ah, Siriema, ah… Siriema… Então eu tentei chegar nela, mas a dor na perna era tanta que não conseguia me mover mais. Foi aí, filha, por uma feliz coincidência, chegou um carro da polícia que estava fazendo ronda pela região, que imediatamente parou e um policial veio me ver e o outro foi verificar a Siriema. De repente, filha, ouvi um tiro e não mais ouvi os gemidos da Siriema. Aí filha, me desesperei. Então o policial chegou perto de mim e falou;

– Meu senhor, a égua está com as quatro pernas fraturadas, sendo duas fraturas expostas e um rasgo profundo na barriga. Como sofria demais da conta tive que aliviar as suas dores dando-lhe um tiro na cabeça. Pelo visto, o senhor está com uma fratura na perna esquerda e muito machucado na cabeça, e deve estar sofrendo como sofria a égua, por isso temos que aliviar imediatamente esse seu sofrimento. Diga-me como está se sentindo?

– Filha do Céu, quando o policial falou aquilo me deu uma tremedeira que você nem imagina e mais do que depressa eu falei que estava ótimo, bão demais da conta e até me tentei levantar pra mostrar que estava bão e foi nessa tentativa de levantar que a dor na perna foi tanta que acabei desmaiando e depois não vi mais nada. Só sei que quando abri os olhos estava deitado aqui imaginando que tinha ido pro mesmo lugar da minha égua Siriema.

* Texto: Eitel Teixeira Dannemann.

* Foto: Montagem de Eitel Teixeira Dannemann sobre foto publicada em 25/02/2020 com o título “Palacete Mariana na Década de 1960”.

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