Um primo meu afirma categoricamente que foi na década de 1970 naquele hospital da Rua Padre Caldeira. Quando eu já estava crendo que foi na década de 1970, um amigo meu foi sério em dizer que foi em 1985 naquele hospital da Rua Maestro Randolfo. Aí vem a minha tia e diz que foi mesmo em 1985 ou por aí, mas não no hospital da Rua Maestro Randolfo e sim naquele da Rua Major Gote. No frigir dos ovos, tanto faz quando foi ou em que hospital foi, já que os três me contaram a mesma situação.
O negócio é que uma pessoa ligou para a recepção de um desses três hospitais solicitando informações sobre o estado de saúde de um paciente de nome Geraldo hospedado no quarto 204. A moça da recepção tenta transferir a ligação para o médico de plantão, mas a ligação cai no setor de enfermagem e a enfermeira que atendeu tenta localizar o médico de plantão que, coincidentemente, tinha visitado o paciente poucos minutos antes. Localizado o médico de plantão, ele, estranhamente gentil, conta sobre o estado de saúde do Geraldo ao interessado:
– Ele está aqui há uma semana, chegou muito mal após um princípio de ataque cardíaco e de lá para cá melhorou bastante. Estive com ele há poucos minutos e a enfermeira me informou que desde ontem ele vem se alimentando muito bem, vem respondendo bem à medicação, a pressão arterial está normal e se continuar assim acredito que em mais dois ou três dias no máximo ele será liberado pelo médico responsável para continuar o tratamento em casa e iniciar a fisioterapia o mais rápido possível.
– Puxa vida, legal demais da conta, só notícia boa, fiquei muito feliz, pois já estava preocupado e isso que ouvi do senhor é como bálsamo para os meus ouvidos.
O doutor de plantão se emocionou com o entusiasmo da pessoa ao telefone:
– Mesmo com muitos anos nessa profissão a gente se emociona quando um parente ou um simples amigo de um hospitalizado recebe boas notícias sobre ele e principalmente que está para receber alta. O senhor é parente ou amigo do Geraldo?
– Nada disso, doutor, eu sou o próprio Geraldo falando aqui do quarto 204. É que entra enfermeira, sai enfermeira, aplica remédio, faz monitoramento cardíaco, mede pressão, tira temperatura, faz medicação, entre médico, sai médico, eu pergunto da minha saúde e todo mundo só responde que estou melhorando e ninguém expunha a minha real situação como o senhor acabou de fazer. Agora, sim, estou tranquilo. Obrigado, doutor!
* Texto: Eitel Teixeira Dannemann.
* Foto: Montagem de Eitel Teixeira Dannemann sobre foto publicada em 25/02/2020 com o título “Palacete Mariana na Década de 1960”.