PATOS, QUANDO GUARATINGA, E A ELEIÇÃO DE 1945

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A eleição presidencial de 1945, realizada no dia 2 de dezembro, foi a décima quarta eleição presidencial e a décima segunda direta, mas é considerada a primeira eleição presidencial verdadeiramente democrática da História do Brasil. Durante a República Velha, muito embora as eleições presidenciais fossem diretas, os resultados não eram confiáveis. Praticamente, não houve acusações de fraude no pleito de 1945 e seu resultado foi acatado pela totalidade das forças políticas da época.

Após quase 10 anos de ditadura, os brasileiros reencontravam-se com a democracia e elegeram o general Eurico Gaspar Dutra, o candidato do Partido Social Democrático, como Presidente da República. Era o início de um regime democrático que duraria 19 anos, sobrevivendo entre diversas crises políticas. Diferentemente do que ocorrera na eleição presidencial de 1934, a eleição presidencial de 1945 foi uma eleição direta. Além disso, pela primeira vez, as mulheres votaram para presidente no Brasil.

O cargo de vice-presidente foi recriado pela constituição de 1946, sendo o primeiro nesta posição sob esta Carta eleito indiretamente, pelo Congresso Nacional, no dia 19 de setembro de 1946. Nereu Ramos, do Partido Social Democrático, foi eleito com 178 votos (55,63%), derrotando José Américo de Almeida, na legenda da União Democrática Nacional, que recebeu 139 votos (43,44%). Fernando de Melo Viana, José Carlos de Macedo Soares e Luís Carlos Prestes receberam 1 voto cada, havendo também 3 votos em branco.

Oito meses antes da eleição, o jornal Folha de Patos publicou a seguinte matéria:

Impossivel deter a pena neste momento em que o Brasil inteiro está sentindo o fremito de um grande entusiasmo pela democracia.

E’ preciso que a palavra não seja desvirtuada. Todos nós queremos falar, discutir, viver uma particula do grande todo, a exemplo do que vai acontecendo em todos os recantos da patria.

Somos pela eleição direta e não relegamos o direito de escolher livremente os nossos representantes. O nosso municipio, solo de tantas pelejas sagradas, ha de vibrar com o clangorar de muitas trombetas e rufar de inumeros tambores. E’ justo, é humano que isto se verifique. Cumpre-nos, agora, uma advertencia.

Se vamos lutar pela escolha dos futuros governantes, coloquemos bem alta a esfera de nossas atividades partidarias, lutemos no terreno elevado dos principios, aprimorando a vida politica no exercicio constante de um liberalismo prático. Queremos sentir o brado de nossas convicções, ecoando por toda a parte, sem ouvir as torpezas das retaliações pessoais, que tanto depõem contra quem lhes dá curso. Queremos ouvir as criticas sinceras e serenas aos atos administrativos e, para isso, se tanto for necessario, abriremos, sem distinção, as colunas de nossa modesta folha. Focalizaremos ás figuras dos candidatos, sem invectivar ou injuriar a sua conduta, comentando, sem acrimonia, os seus programas de governo. Guaratinga¹ ha de viver grandes dias nessa parada civica que vem proxima.

Desde já, concitamos os homens de maior responsabilidade a dar o exemplo de educação politica tão necessario ao povo bravo desta terra. As campanhas pequeninas devem desaparecer para sempre. Nenhum cidadão poderá ser atacado por motivo de suas opiniões particulares a não ser com argumentos convincentes e que esclareçam a população, para que não se pratiquem injustiças. Chegam a termo final as campanhas difamatorias, pois quem injuria e difama cae no desprezo publico e não ha maior desprestigio do que não saber o homem conservar-se à altura do cargo que vem exercendo por força de circunstancias ocasionais.

As grandes forças, as correntes que se bateram outrora, neste ponto, confraternizam.

“Folha de Patos” pretende seguir o seu caminho, sem rebuços e sem esmorecimentos. Hoje, como ontem, saberemos respeitar as crenças religiosas de quem quer que seja, pois, é incrivel, que nos meiados do seculo XX, alguem padeça por esse motivo, sem causar profunda revolta contra os perseguidores. Ninguem se atreve a lançar mãos deste nojento recurso, nesta epoca de liberdade, porque dará demonstração de falta de prestigio pessoal, de pouca acuidade e de pouca inteligencia.

Os resultados não se fazem esperar e são de ontem, aqui, ali e em todos os logares.

Com este espírito resoluto e intransigente na sustentação destas verdades, continuaremos a orientar a opinião publica sem receio de que nos façam parar em meio do caminho. Por isso mesmo, e animados por estes propósitos, seremos francos para apreciar os atos de administração; implacaveis na repulsa aos perseguidores inconsequentes, que sugam e maltratam o povo, sem desfalecimentos e sem caridade. A marcha de Guaratinga não serà perturbada, pois, existe maravilhosa compreensão entre seus filhos, neste terreno, antigamente tão melindroso de ser percorrido. Esta será uma fase fascinante de nossa vida politica e social.

* 1: Leia “Patos Mudará de Nome?”, “O Dia em Que Patos Deixou de Ser Patos 1 e 2”.

* Fonte 1: Wikipédia.

* Fonte 2: Texto publicado com o título “E’ chegado o momento” na edição de 11 de março de 1945 do jornal Folha de Patos, do arquivo da Fundação Casa da Cultura do Milho”, via Marialda Coury.

* Foto: Início do texto original.

* Edição: Eitel Teixeira Dannemann.

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