PATOS EM 1914: TERRA DE BANDIDOS – 2

Postado por e arquivado em ARTIGOS.

TEXTO: JORNAL O COMMERCIO (1914)

Senhor Redactor, Saudações!

Ao ler, no “O Commercio” de 14 do corrente mez, as más impressões que João Borges Netto¹ escreveu, relativas ao nosso Municipio e o artigo de Coêlho Netto, sob a epigraphe “A União”, lembrei-me de que ja temos batido contra a união, que é de onde resulta a força de toas as cousas. Temos dito: “Unidos seremos fortes”; mas, união sem Deus, sem crer no que Jesus Christo ensinou e mandou cumprir, não poderà haver! Sujeito á critica do O Bento, voltemos a esse assumpto e falaremos sobre as verdadese falsidades.

João Borges Netto, sente-se impressionado, arrepiam-lhe os cabellos ao ler as noticias de barbaros assassinatos em Patos: é por que elle foi creado na religião Christã; mas, estes homens sem Deus, verdadeiramente descrentes da divindade e que sò crêm na natureza sem creador; não se arrepiam com esses acontecimentos. Parece-me que estamos sendo governados por uma dictadura sem Deus. As leis constituidas vão sendo lettra morta: não vale o poder legislativo. O Executivo governa por sua vontade de um modo desastroso, impondo o legislativo cumprir suas exigencias.

Os nossos legisladores já são considerados loucos, na expressão do Eminente Senador Ruy Barbosa, que comparou a casa de senado com um manicomio.

E’ lá de cima que se irradiam os grandes governos e será tambem irradiada a deposição dos màos governadores, quando o povo comprehender, que unidos seremos fortes. Eu me sinto tambem, mal impressionado com os males desta comarca; os quaes venho observando, desde aquelles tempos idos, em que me coube a honra de ser Delegado de Policia neste municipio. Abstenho-me de mencionar todos os factos criminosos que tenho presenciado passarem impunes; causa do grande numero de assassinatos. O que temos presenciado, é um cumulo de iniquidades. Eu tenho comprehendido os direitos de cidadão e desde que entrei na vida publica, trago na minha carteira o titulo de eleitor, para exercer constante o direito de voto. Lastimo a indifferença eleitoral de Patos. Temos perto de tres mil eleitores qualificados, e quantos votaram ultimamente para Presidente do Estado?

Hão de ver, que esse cumulo de indifferentes é a causa dos desacatos às autoridades, da falta de policiamento, e da falta de repressão dos criminosos. O Jury ja perdeu a valia de outrora.

O Promotor de justiça e outras autoridades judiciarias da comarca, são coagidas: segundo me consta por pessôa de fé, na occasião da ultima sessão do Jury uma recomendação anonyma, foi introduzida debaixo da porta da casa do Promotor, privando-o para não appellar da absolvição de certo criminoso; a ser exacto esse acontecimento, o que havemos de esperar do Jury? Assim, devemos mesmo nos impressionar com a gravidade dos acontecimentos. Por causa da falsidade dos homens, dos desacatos ás autoridades, ja não temos quem queira o encargo de policia, por medo dos tiros traiçoeiros dos assassinos. A prisão em flagrante delito, é da competencia de qualquer cidadão, e no entanto ahi na Cidade commettem crimes e passam tranquillos os criminosos; que diremos cá das mattas do Arêado?

Estamos no tempo do mutualismo. Trabalhemos pois um por todos, todos por um, para diminuirem os assassinatos.

Perguntar-me-ão: Como diminuiremos os assassinatos? Então direi: Crendo na lei de Deus e observando os seus mandamentos, amando o proximo como a se mesmo.

A autoridade vem de Deus; e, para que esses homens constituidos em Inspectores de Sessão, Subdelegados, Delegados, Promotor de Justiça, Juiz Municipal, Juiz de Direito, comservem-se, è preciso o acatamento de todos. O desacato tem sido a causa de muitos males, vamos pois nos associar, para que as nossas familias tenham tranquilidade.

Lembrem-se meus amigos, da paz das familias. Com essa enchente de assassinos protegidos, como terão tranquilidade, nossa esposa, nossos filhos, quando precisarmos sahir pra tratarmos de nossos negocios profissionais?

Ja vão sendo extensas estas linhas, caro Redactor: termino pedindo desculpas ao benigno leitor.

O PATRICIO

* 1: Leia “Patos em 1914: Terra de Bandidos – 1”.

* Fonte: Texto publicado com o título “Màs Impressôes!” na edição de 05 de julho de 1914 do jornal O Commercio, do arquivo da Hemeroteca Digital do Triângulo Mineiro e Alto Paranaíba.

* Foto: Primeiro parágrafo do texto original.

* Edição: Eitel Teixeira Dannemann.

Compartilhe