ELIXIR DE MANSO SAYÃO COM MOSCAS

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TEXTO: JOÃO GUALBERTO DE AMORIM JÚNIOR (1914)

Grande e ainda crescente é o numero de preparados novos que hoje circulam pelo Brazil inteiro.

Todos elles vêm se recommendando em suas bulas e nas quartas paginas dos jornaes que são trabalhados com escrupuloso asseio e habilidade trazem comsigo attestados phantasticos e annuncios pomposos, no entanto não é raro encontrar-se dentro de seus frascos certos insectos que assim em conserva, isto é, inchados, são bastante repugnantes.

Neste ponto ultimo, refiro-me ao conhecido Elixir de Manso Sayão, cuja formula composta como é, de quatro preciosos vegetaes da Flora Brazileira, muito o recommenda, mas para que a sua acceitação seja mais ampla, necessario se torna que o seu fabricante, tenha um pouquinho de cuidado e fiscalise o serviço de engarrafamento. Pois na sua composição, alem de Suma, Salsa, Caroba e Japecanga ja se encontra á vista desarmada mais um outro simples, que como aquelles não o recommenda, mas o desmerece muitissimo.

Aos 28 do mez passado, ao abrir eu um frasco do referido Elixir, fui sorprehendido, encontrando dentro duas grandes moscas, dessas domesticas.

Muito bem!

E quem podera nos afirmar de onde sahiram esses dois insectos pouco antes de se afogarem? Quem sabe se não tinham deixado de sugar naquelle instante o puz contagioso de uma aberta chaga?

Ninguem! Mas, a verdade é o que o excrupuloso asseio não foi posto em pratica. O que assim se explica: Os auctores de certas formulas, entregam-n’as aos preparadores e estes que só visam o embolçar do dinheiro, obedecem a lei do menor esforço, fazem grande chapoeirada duma só vez, enchem duzias e duzias de vidros, de modo que quando o arrolhador chega aos ultimos, as moscas que facilmente são attrahidas pelo cheiro dos licores lá ja se precipitaram.

E os pobres consummidores, quando esses preparados não passam nas pharmacias por mão de escrupulosos praticos ou pharmaceuticos, que de prompto as regeitam (com prejuizo bem se vê) bebem, em vez de medicamente puro, caldo de moscas e baratas.

* Fonte: Texto publicado com o título “Atenção!” na edição de 07 de junho de 1914 do jornal O Commercio, do arquivo da Hemeroteca Digital do Triângulo Mineiro e Alto Paranaíba.

* Foto: Dois primeiro parágrafos do texto original.

* Edição: Eitel Teixeira Dannemann.

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