CALUMNIA

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TEXTO: MARIO JARDIM (1914)

Gerada pela podridão das almas torpes e vis, ella pullula nos reconditos infectos das cerebrações doentias e mesquinhas. Por onde quer que passe, deixa assignalado o caminho com o limo asqueroso de sua bilis esverdeada e venenosa. Onde cahe, extermina.

Alimentada pela inveja, cancro que soffregamente corróe as almas immundas dos máos, procura com desusado afam, macular a candidez das virtudes com suas dejecções purulentas. E’ como o carvão: se não queima tisna.

Assemelha-se ás viboras que, pequeninas, se occultam sob as verdes folhagens dos canteiros para, disfarçadamente, inocular seu veneno mortal. Como as viboras è pequenina, e como as viboras perigosa. Onde quer que haja virtudes e merecimento, alli fica de alcatèa para na occasião opportuna lançar o bote. Cautelosa e sagaz, anda com pés de lan para se não denunciar. Covarde, sempre acobertada pela hyporisia, não tem coragem de fitar a luz, porque a luz a decompõe e mata. E’ o peior assassino: não ha leis contra ella!

O homem que assassina seu semelhante é, muitas vezes, um doente que merece dó; o que calumnia, é um ser abjecto, repugnante, para quem o desprezo è pouco. De preferencia, procura ferir o bom, o virtuoso; não tolera a alegria nem o bem estar de outrem. De assalto, investe contra suas incautas victimas, procurando manchar-lhes a reputação e o nome, roubando-lhes o socego, perturbando-lhes o repouso.

Maneirosa e hypocrita, se introduz nos lares felizes para semear a discordia e perturbar a paz, como o mào da Biblia que a deshoras penetrava nos trigaes de seus inimigos para semear o joio. De todos os vicios  è o peior: fere e assopra, para, demoradamente, cynicamente, gozar os soffrimentos  alheios.

Atrevida e audaz, procura estar constantemente, ao pé de suas victimas, sorvendo com prazer e extraordinario gozo, os effeitos causados pelo seu virus mortifero, negro e pestilento, como negro e pestilento è o seio onde germinou.

* Fonte: Texto publicado na edição de 17 de maio de 1914 do jornal O Commercio, do arquivo da Hemeroteca Digital do Triângulo Mineiro e Alto Paranaíba, via Altamir Fernandes.

* Edição: Eitel Teixeira Dannemann.

* Foto: Início do texto original.

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