Com o desaparecimento dos velhos Antônio Dias e Jerônimo, bem como de Olegário, por último, enterraram os Macieis de Patos, não tres partes integrantes da Família, mas antes, a nobreza, a modestia e a cultura. Virtudes múltiplas encarnadas em tres vultos.
Entretanto, devemos considerar que todas as virtudes com que aqueles varões honraram a estirpe estão concentradas nos que lhes sobrevivem, principalmente nos que, já curvados sob o pêso dos anos, se dão a testemunho com a veneração de todos nós que lhes procuramos espelhar as ações e lhes tomamos a vida como norma.
“Folha de Patos”, em seu ultimo numero aqui chegado, traçando o perfil do nobre administrador do municipio¹, fez referência ao “carater de tempera de Cel. Farnese Dias Maciel”. Uma referência de passagem, já se vê. Mesmo porque, discorrer sobre a vida, a figura empolgante desse patense, não cabe, por resumo, em crónicas apoucadas, de espaço mais que medido, nesta quadra de racionamentos. Farnese, esse velhinho² admirável na sua simplicidade, é, hoje, o primeiro depositário dos legados morais de uma das maiores ou talvês maior ramificação de familia do Estado de Minas. É o “patriarca” dos Macieis.
Ninguém precisa indagar do que foi a estupenda atividade desse homem, durante uma já longa existência. Basta inquirir a sua invejavel espiritualidade e lucidês, transbordando jovialidade e deixando transparecer a caracteristica elevação dalma, tão propria dos que pautam a vida pelos mais estritos ditames da conciencia, com os olhos em Deus e o pensamento nos deveres de cidadão. Isto é o suficiente para marcar o traço de uma personalidade, maximé quando se considera que estamos em grau superior de crise moral.
Entanto, a linhagem impôs a Farnese sacrificios ingentes e trabalhos arduos, quando ainda moço, afim de poder dotar a prole, numerosa, não só do conforto material, mas da cultura da inteligencia, elevando-a ao nível distinto dos antepassados. E desdobrou-se em trabalhos; e multiplicou-se em diligencias e energias, vencendo obstáculos e superando dificuldades; e conseguiu, honestamente, galhardamente, formar uma família em que os diversos ramos da ciencia se fixaram em cada membro, em beneficio da sociedade.
Essas circunstancias inda mais se alevantam em favor da personalidade do Cel. Farnese, quando as responsabilidades do homem isolado se conjugam com as do politico. Farnese foi sempre politico. Fino, destro, refolhado na arte de conduzir a multidão; sereno e ao mesmo tempo impetuoso; ferindo o adversario sem lhe melindrar a personalidade, todos esses atributos fizeram com que as pugnas eleitorais terminassem sempre em triunfos do partido que chefiava. Jamais experimentou uma derrota. E, quando as paixões se exacerbavam, engendrando ameaças ou ocasionando desavenças entre as familias, eis que a figura protetora do chefe aparecia: para persuadir a uns do erro em que incorrera, para tutelar a outros nos seus atos. E as discordias desapareciam como por encanto, pelo encantado poder de persuasão do respeitavel comandante politico.
Eis, em ligeira sintese, a fisionomia politica e domestica da figura simbolo de uma geração de nobres, na autenticidade e na conduta através dos tempos.
Eu concitaria os Macieis à veneração desse vulto masculo da sua descendencia ainda entre nós, pelas prendas raras de que se cobre, pela honraria que o destino lhe conferiu: é o seu “Patriarca”.
Rio – abril – 944
* 1: Clarimundo José da Fonseca Sobrinho, o Prefeito Camundinho.
* 2: Farnese, filho de Antônio Dias Maciel (Barão de Araguari) e Flaviana Rosa Corrêa da Silva, nasceu em 27 de dezembro de 1862. Portanto, quando da reportagem ele tinha 82 anos de idade. Ele faleceu em 11 de abril de 1949.
* Fonte: Texto de Damião Jesícola publicado com o título “O Patriarca Farnese Dias Maciel” na edição de 14 de maio de 1944 do jornal Folha de Patos, do arquivo do Laboratório de Ensino, Pesquisa e Extensão de História (LEPEH) do Unipam.
* Foto: Arquivo Público Mineiro.