Hontem, ás 3 horas mais ou menos da manhã, apòs quasi dois meses de criciantes soffrimentos, entregou su’alma ao Creador aquella cujo nome serve de epigraphe para esta pallida noticia.
Sucumbiu a estimada senhora aos 73 annos de edade, deixando numerosissima prole, da qual apesar do grande esforço empregado, sò conseguimos o seguinte resultado da descendencia que deixa: 12 filhos, 67 netos, 55 bisnetos e um tataraneto.
Faleceu a saudosa senhora, rodeada dos carinhos da maior parte de seus filhos e parentes, confortada com todos os Sacramentos da Egreja Catholica.
Os ricos dotes que ornavam o coração bondoso daquella illustre senhora são tantos, que á minha humilde penna não è dado descrever como devia, e mesmo que eu tentasse fazel-o o estreito limite das columnas deste periódico, seria bastante pequeno para contel-os.
Seriam acanhadas as columnas d’este jornal sim, porque aquella senhora era uma mulher verdadeiramente popular. Popular, porque tanto ella com sua palavra cheia de carinho e amisade, penetrava em visita a um lar pobre, como a uma confortavel vivenda.
Ricos ou pobres eram por ella sempre recebidos com a mesma dedicação e afecto. Devido a todos os seus bellos predicados, é que durante o periodo de sua enfermidade, a casa de sua residencia esteve sempre repleta de familias amigas, que alli se dirigiam a levar suas provas de amisade e verdadeiro reconhecimento.
O seu enterro, foi um dos mais concorridos atè agora visto neste logar; pois calculou-se o acompanhamento em um numero superior a 900 pessoas.
Foi elle efectuado às oito horas da noite do mesmo dia, officiando-o Rer. Pe. Agostinho Christobal, vigario da parochia.
A corporação da musica local, durante o cortejo, da igreja ao cemiterio, executou commoventes marchas de seu vasto repertorio, sendo tambem cantada a musica adequada ao acto.
No cemiterio, á beira do tumulo, pronunciaram bonitas orações funebres, exaltando as nobres qualidades da extincta, os Srs. Pe. Agostinho e prof. João Amaral.
Sobre o caixão mortuario estavam 6 lindas corôas, sendo tres com a seguinte dedicatoria:
A’ Dona Maria Fernandes. Saudades de Antenor e familia − A’ amiga D. Maria Fernandes, saudades de João Amaral e Joanna Amaral. − A’ D. Maria Fernandes, saudades de M. Nascimento, Totó e Arminda − A’ minha inesquecivel e saudosa mãe Maria Fernandes eterna saudade de seu filho Virgilio Caixeta.
Nós que reconheciamos na querida extincta belas virtudes, juntamos tambem a essas corôas a nossa de sentida saudade, e enviamos aos seus inconsolaveis filhos e a toda a familia enluctada, as nossas sinceras condolencias.
Sant’Anna de Patos, 3 de Março de 1914.
Greenhalg.
* Fonte: Texto publicado com o título “D. Maria Fernandes” na edição de 15 de março de 1914 do jornal O Commercio, do arquivo da Hemeroteca Digital do Triângulo Mineiro e Alto Paranaíba, via Altamir Fernandes.
* Foto: Três primeiros parágrafos do texto original.