TEXTO: JORNAL O TRABALHO (1909)
Quando o mallogrado Dr. João Pinheiro subiu á presidencia do Estado, chamando como auxiliar do seu governo o jovem reformador Carvalho Britto, taes foram as ensenações do seu programma de reforma que todos esperavam o resultado salutar do seu largo descortino de vistas contra a rotina prejudicial da instrucção publica.
Em todo o paiz o nome de Carvalho Britto foi engrandecido. Fez muita cousa em papel, em circulares dirigidas para todos os cantos. O resultado, porem, é que não attingiu nem ao principio das suas magnificas idéas, pois, a não ser a creação de alguns grupos escolares nada mais ficou organisado, continuando tudo no péssimo estado em que andava.
A embaixada de inspectores technicos deu o resultado negativo e as anarchias continuaram do mesmo modo desde que não prevaleceram a insuspeição dos inspectores techinicos, pois, contra a observação havia o protectorado politico, muito mais valioso do que todas as vontades do governo.
Em o nosso Municipio, desse que se inventou a inspecção do ensino, appareceu em tempos inmemoriaes um inspector que nada fez, que nada aconselhou.
Este municipio que conta com cerca de 50 mil almas, possue 5 escolas estaduaes, uma das quaes suspensa, 3 escolas municipaes e está nessa cifra o seu quinhão intellectual.
Ha em todo elle uma espantosa quantidade de moços já, que não conhecem a lettra inicial do nosso alfphabeto.
Para quem havemos de appellar?
Registramos o facto sem outro comentario.
* Fonte: Texto publicado com o título “Algarismo assustador” na edição de 09 de fevereiro de 1909 do jornal O Trabalho, do arquivo da Hemeroteca Digital do Triângulo Mineiro e Alto Paranaíba, via Altamir Fernandes.
* Foto: Dois parágrafos do texto original.