A antiga Cadeia Pública foi inaugurada entre o final de abril e o início de maio de 1914. Não há oficialmente o dia exato, mas foi nesse espaço de tempo¹. Três anos após, já havia reclamações sobre as condições nada higiênicas de suas dependências². De lá para cá, o histórico prédio prisional registrou uma série de fatos inusitados. Dizem as boas línguas que na época das duas Ditaduras, quem passava por lá ouvia a gritaria dos presos sendo levemente massageados e que em certo dia a esposa de um deles foi visitá-lo e de pronto recebeu a resposta de que um enorme e pavoroso mistério havia acontecido: o maridão, amigo de bens alheios, havia sumido e sumido ficou, pois, até hoje, nunca foi encontrado.
Por volta da segunda metade da década de 1950, começou a circular um boato pela Cidade que o delegado, solidariamente, estava liberando alguns presos de bom comportamento para passarem o dia fora da grade, mas com uma determinação rigorosa: tinham que estar de volta impreterivelmente às oito horas da noite. O buchicho se espalhou por todos os bairros e aí se deu algo interessante: todo e qualquer sujeito desconhecido que zanzava pelas ruas era logo identificado como um dos presos beneficiados, advindo então animosidades com um coitado que nada tinha a ver com a situação, chegando inclusive a quase lincharem um mendigo que estava solicitando uns trocados a uma jovem senhora.
Numa Cidade ainda pequena naqueles idos tempos, o então prefeito, Genésio Garcia Roza, inicialmente não deu muita bola para o fato, imaginando maledicências de quem não tinha o que fazer. Não demorou muito, ele percebeu, pela falação do povo e principalmente depois do caso do mendigo, que, onde há fumaça, há fogo. Foi então que resolveu fazer uma visita à Cadeia Pública para checar com o delegado a veracidade ou não do que estava sendo cochichado por tudo quanto era canto:
– Afinal, Dr. Delegado, é fato que o senhor anda liberando presos durante o dia?
– Seu Genésio, tem alguns deles com pequenos delitos e com bom comportamento que a Justiça está demorando demais da conta em resolver a situação deles que, realmente, estou fazendo isso.
– Além de não ser Legal, Dr. Delegado, isso é deveras perigoso, pois sabe-se lá o que pode passar pela mente de um desses que você considera de pequenos delitos ao se sentir leve e solto.
Foi então que o Dr. Delegado franziu a testa, postou-se seriamente e respondeu:
– Fique tranquilo, Seu Genésio, tô sendo duro, e preso que não voltar às oito horas da noite em ponto eu não deixo entrar de jeito algum.
O Dr. Delegado foi exonerado no ato!
* 1: Leia “Cadeias”, “Inauguração da Antiga Cadeia Pública: Revisão da Data”.
* 2: Leia “Condição da Cadeia Pública em 1917”.
* Texto: Eitel Teixeira Dannemann.
* Foto: Montagem de Eitel Teixeira Dannemann sobre foto publicada em 25/02/2020 com o título “Palacete Mariana na Década de 1960”.