EVOLUÇÃO NA SAÚDE PÚBLICA DE MATOS DE MINAS, A

Postado por e arquivado em CANTINHO LITERÁRIO DO EITEL.

SAÚDEDizem, não há comprovação histórica e muito menos científica, que em 22 de abril de 1500 o prezado Pedro Álvares Cabral teve uma espécie de premonição quando chegava com sua nau às costas do hoje Estado da Bahia, mas que muita gente afirma que foi nas costas do Nordeste. Tem aquela “cesta” que fica dependurada lá no alto do mastro principal, que nomearam de “gávea”. E aconchegado nesta gávea, um tripulante berrou aos píncaros das nuvens carregadas, pois, dizem, que no dia em que o Cabril descobriu o Brasal caiu um temporil que puta que paral. Pois bem, lá da gávea o cara gritou:

– Monte à vista!

Aqui entra a tal premonição do Cabral. Ele, talvez com 33 anos de idade, terrivelmente agitado caminhava claudicante por todo o convés da sua querida nau capitânia. A todo momento apalpava o estômago e intestinos numa ânsia incontida para responder ao cara da gávea, que lá de cima aguardava ansiosamente uma atitude do chefe. E ela veio numa pergunta doída, sofrida, pois se tratava do futuro que ele previa para aquelas novas terras:

– Monte de que?

Após a previsão, Cabral sofreu a primeira diarreia do novo mundo. Se a história registrou ou não são outros quinhentos réis. O fato é que essa diarreia foi a verdadeira introdução da saúde pública no recém-descoberto chão. O médico à bordo era funcionário público da Corte, muito do mal remunerado e que atendia a tripulação com um desprazer, incluindo o Manda-Chuva, de fazer inveja às UPAs da atualidade. Assim, então, começou a saúde pública no Brasil.

O tempo passou, passou e como passou. Quinhentos e quatorze anos após a primeira diarreia, a saúde pública está que nem a previsão do Cabral: monte de que? Mas, peraí, tem gente que trabalhou duro usando a inteligência privilegiada para estudar melhorias no setor. E são estas pessoas que fazem a gente se orgulhar de ter nascido num país tão rico em recursos naturais e mais rico ainda em mentes borbulhantes de ideias do tipo “vou me dar bem, ora se vou”! Não vou me ater ao país como um todo para dar exemplos das loucuras mentais dos gênios da saúde pública. Vou citar o que aconteceu numa pequena cidade do glorioso Estado de Minas Gerais. Coisa de dias atrás, pois coisas de dias à frente ainda estão por acontecer. Trata-se de um cantinho abençoado por Deus chamado Matos de Minas.

A euforia tomou conta de Matos de Minas quando o novo Secretário de Saúde Municipal foi empossado. Que por sinal não é médico, mas, tudo bem, é um ínfimo detalhe. Tudo por causa do seu discurso, que embasbacou toda a população. O Secretário foi bastante enfático ao declarar que a saúde municipal estava doente. Foi ovacionado, afinal ninguém esperava alguma autoridade declarar publicamente que a saúde municipal estava doente. Está certo que ele não declinou o nome da doença, mas que a saúde estava doente, isto lá estava. E para a alegria de todo o povo de Matos de Minas, o Secretário expôs, com uma euforia sensacional, as duas primeiras medidas a serem implementadas em Matos de Minas que revolucionariam a saúde municipal e, pasmem, contribuiria em muito para que o cidadão matense tivesse um atendimento de primeira. Mesmo sem dizer de quem foi a ideia fantástica das duas ações que promoveriam o bem da saúde municipal, o negócio é que o assunto virou mania na cidade.

– Mas que ideia das mais bacana… então agora a farmácia popular não mais “entrega” o remédio pra nóis…

– Pois é, cara, agora ês “dispensam” o remédio.

– Uai, não entendi.

– Ô topeira, o negócio agora não é “entrega”, é “dispensação”.

– Ó Deus, ó trem mais bão do mundo. E a outra mudança, também é um trem bão demais, não é?

– Ô, sô, essa então é de fazer qualquer país lá das Europa a ter inveja dinóis. Óia só: sabe o tal do “Clínico Geral”? Pois é, sei lá quem achou que os tal Clínico Geral não távam trabalhando direito. Então, ora, ora, ora, mudaram o nomes dês pra “Generalistas”.

– Cumé que é?

– Ô anta, mas tu é besta mesmo! Os entendidos acharam que mudando o nome dos Clínico Geral para Generalista a coisa ficaria melhor e o atendimento público mudaria a situação e nós vamos ser melhor atendidos. Deu pra entender agora, jumento?

– Ah!

É Cabral, aquela sua diarreia de 22 de abril de 1500 foi fatal!

* Texto: Eitel Teixeira Dannemann.

* Foto: Tributoaocordel.blogspot.com.

Compartilhe