A disputa eleitoral para Prefeito no final da década de 1950 foi acirradíssima. Afirmam os mais rodados que os comícios dos candidatos do PSD (Antônio da Silva Caixeta) e da UDN (Sebastião Alves do Nascimento, o Binga) atraiam um mundaréu de gente que se deliciava com os discursos cujas críticas aos oponentes iam longe. Tradicionalmente naqueles idos tempos, o corpo-a-corpo era frequente, com visitas aos eleitores em suas casas, no comércio, nos jogos da URT e do Mamoré e nem a zona boêmia eles deixavam de visitar. Inúmeros incidentes aconteceram entre os candidatos e correligionários de ambos os partidos, chegando até ao fato de atirarem pedras em direção aos palanques.
Menos acirrada, a disputa ao cargo de Vereador também teve momentos esdrúxulos. Um conhecido advogado candidato pela UDN subiu a um palanque montado em frente ao Mercado Municipal. Era a reta final da campanha e ele havia se preparado para conquistar a multidão presente. Começou assim:
– Incendiários!
Foi um espanto geral, óbvio. Todos se olhavam e estranharam aquele advogado tão conhecido acusar os presentes de provocar incêndios. E o advogado candidato não deu chances para a plateia se recuperar do susto:
– Todos vocês são incendiários, cada um de vocês não passa de um incendiário, que tão mansamente incendiou o meu coração com o fogo do amor, e que esse amor inunde de alegria o coração de vocês.
O susto inicial transformou-se em ovação. No meio da plateia, um adversário do orador considerou aquela tática muito eficiente. Natural do Distrito de Pindaíbas, e de família tradicional de lá, prontamente teve a ideia de usar a tática em sua terra natal. O palanque foi montado no espaço aberto que hoje é a Praça Dom José André Coimbra, em frente a Igreja. Por influência da família, a praça se abarrotou de gente. Tudo pronto para o início do discurso, o candidato, seguindo os passos de seu adversário, lascou:
– Incendiários!
Quem conhece o povo do Distrito de Pindaíbas, sabe muito bem o quanto ele é sistemático. Portanto, um sujeito subir num palanque e acusar todos ali presentes de provocar incêndios, principalmente esse sujeito sendo nativo, é uma baita afronta. Mesmo percebendo um murmúrio nada agradável, o candidato mandou:
– Incendiários, vocês não passam de incendiários!
Foi um fuzuê danado. O povo, enfurecido com aquele desrespeito, partiu para ocupar o palanque e linchar o orador. Enquanto seu pai, irmãos e amigos tentavam de todas as formas segurar a turba enfurecida, o candidato berrava:
– Calma gente, calma gente, eu explico, eu explico, foi uma brincadeira, vocês não entenderam, calma…
Ele teve a oportunidade de explicar tudo direitinho no Hospital Regional.
* Texto: Eitel Teixeira Dannemann.
* Foto: Montagem de Eitel Teixeira Dannemann sobre foto publicada em 25/02/2020 com o título “Palacete Mariana na Década de 1960”.