Pequena confusão aconteceu em Boacura, um dos cinco distritos de Periquitinho Verde, quando padre Inácio, o vigário local, descobriu que um peru havia desaparecido do seu quintal. A ave era da estimação do religioso, e por isso, inconformado, ele aproveitou a oportunidade que lhe oferecia a primeira missa oficiada após a ocorrência, para perguntar à congregação:
– Algum de vocês aqui tem o peru?
Todos os homens se levantaram.
Desconcertado, o vigário quis corrigir o mal-entendido:
– Não, não, não é isso. Vocês não entenderam a pergunta que fiz. O que estou querendo saber é se algum de vocês viu um peru nos últimos dias?
Todas as mulheres se levantaram.
Isso deixou o padre ainda mais embaraçado. Sem pensar, ele tentou, outra vez, explicar o que estava querendo saber:
– Acho que não estou sendo suficientemente claro. O que eu quero é que vocês me digam se algum de vocês viu um peru que não lhes pertença?
Os congregados hesitaram durante uma fração de segundo, se entreolharam como que em busca de alguma orientação, mas finalmente, meio sem jeito, na base do vai-não-vai, mais da metade das mulheres se colocou de pé, embora mantendo os olhos pregados no chão, sem coragem de encarar seu guia espiritual. Surpreso, este ergueu as duas mãos à altura dos ombros, balançou a cabeça de um lado para o outro, numa demonstração de incredulidade e desânimo, mas insistiu no interrogatório:
– Não é nada disso, gente. Vou perguntar de novo, da forma mais clara possível, de forma que ninguém possa dizer que não entendeu minhas palavras. Algum de vocês viu o meu peru?
Todos os coroinhas se levantaram.