Da segunda metade da década de 1950 até meados dos anos 1970, o número de mulheres prostitutas em Patos de Minas era bastante acentuado e elas se aglomeravam em três pontos diferentes da cidade: Alto da Várzea, onde ficavam as melhores casas, sobretudo nas Ruas Padre Brito e Dr. Adélio Maciel, mas contando também com o baixo meretrício em parte das Ruas Dores do Indaiá, José de Santana e Ouro Preto. As duas outras áreas eram o Baixo da Várzea, meretrício baixíssimo e de extrema pobreza, o mesmo acontecendo com o Alto da Vila Garcia, acima da Vila Vicentina Padre Alaor. As pensões da Rua Padre Brito eram muito procuradas e preferidas pelos viajantes. Bons quartos, confortáveis e mais baratos que os hotéis da cidade. Algumas ganharam fama na profissão, como a Brama, a Eva, a Joaninha, a Maria Cachorra, a Marietinha e a mais famosa delas, a Lé. A zona boêmia se extinguiu nos anos 1990 com a morte da Lé¹. Os tempos mudaram, os motéis passaram a fazer parte do cotidiano e a prostituição se modernizou. Hoje, a prostituta se chama garota de programa. Como dizia Arnaldo Jabor, “a prostituta contemporânea não se envergonha do trabalho e não tem sentimento de culpa; talvez, apenas nojo… de você!”.
No final da década de 1980, um candidato a vereador resolveu fazer um comício na Praça João Pinheiro, na esquina da Rua Dores do Indaiá com Olegário Maciel, palco de muitos acontecimentos relacionados com a antiga prostituição. Como era comerciante conhecido na Cidade, muitos se aglomeraram em torno do pequeno palanque improvisado. Mostrando veemência nos ditames, passou a comentar sobre o quanto inúmeras famílias sofreram retaliações morais por causa da prostituição que havia por ali. Para o candidato, famílias sérias, que não tinham nada a ver com a prostituição, mas que só por morarem naquele lugar eram consideradas como tal, e também as próprias prostitutas eram perseguidas pelas autoridades e pelo povo em geral. Coitadas da gente de bem, coitadas também das prostitutas. Continuando sua preleção, o candidato enfatizou que na base da força e constrangimento, todas as prostitutas foram expulsas da região, até que acabaram com a prostituição.
Numa pausa, os aplausos mostraram ao candidato que suas palavras foram bem absorvidas pelos ouvintes, e ele ouviu muitos “é isso aí”, “foi assim mesmo”, “o senhor conhece mesmo” e por aí foi. Nessa, o candidato se empolgou, falou mais um pouco e, com o peito estufado, resolveu encerrar o assunto:
– Obrigado, obrigado, obrigado, tenho ciência disso tudo, mas nunca com o conhecimento de vocês, pois vocês aqui presentes, tenho certeza, a maioria foi criada nas imediações e suas mães ou suas avós, muitas delas que foram putas, vão realmente confirmar o que acabei de dizer.
Dizem as boas línguas que o candidato passou seis dias internado no Regional e teve um pino colocado no fêmur. E também dizem que ele continuou com a sua campanha o mais longe possível daquela antiga zona boêmia e não foi eleito.
* 1: Pesquise “prostituição” e “zona boêmia”. Há vários textos sobre o assunto.
* Texto: Eitel Teixeira Dannemann.
* Foto: Montagem de Eitel Teixeira Dannemann sobre foto publicada em 06/06/2014 com o título “Antiga Rodoviária no Final da Década de 1970 − 1”.