O patense rodado que conheceu um cadiquinho mais do que os outros o folclórico Joaquim Fubá sabe bem que ele não acreditava em instituições bancárias. O que lucrava com seus negócios era sistematicamente guardado num pequeno cômodo de sua residência cuja porta era escondida por um armário. Foi de tanto insistir que certo dia um amigo de fé e irmão camarada dele conseguiu convencê-lo a entrar para a modernidade abrindo uma conta num dos dez bancos que funcionavam aqui naquele tempo¹.

Foi a partir do dia da abertura da conta bancária que o Joaquim Fubá começou a ficar inquieto. Por mais que o amigo de fé e irmão camarada lhe tranquilizasse sobre a seriedade do negócio, o homem foi ficando desconfiado até que, passados somente trinta dias, foi ao banco e procurou o gerente:

– Seu moço, tô precisando do dinheiro que eu deixei guardado aqui.

– Pois sim, seu Joaquim Fubá, qual o valor quer retirar?

– Olha, seu moço, eu vim para retirar todo o meu dinheiro e a carroça está aí na porta para levar os quatro sacos que eu deixei aqui no fim do mês passado.

Foi um espanto para o gerente e alguns funcionários que ouviam a conversa. Além do espanto, o gerente ficou preocupadíssimo porque a retirada ia provocar um desajuste no caixa daquele dia e tentou entender o porquê daquilo, mas o Joaquim Fubá continuou na sua determinação de retirar todo o seu dinheiro. Sem mais o que fazer, o gerente não teve alternativa a não ser ordenar aos funcionários que depositassem nos quatro sacos o dinheiro. Mas antes, o Joaquim Fubá fez questão de que contassem nota por nota para ver se batia com o que ele havia depositado um mês antes. Que trabalheira!

Terminada a trabalheira, o gerente se lamuriou pelo fato do Joaquim Fubá ter encerrado sua conta no banco, mas que, se algum dia ele resolvesse voltar, estaria à disposição para reabrir a conta. Então solicitou a presença de dois funcionários para que levassem os sacos de dinheiro até a carroça. Nessa o Joaquim Fubá ditou:

– Seu gerente, pode voltar com o dinheiro e continuar com ele guardado aqui.

Mais um espanto clamoroso do gerente, que já estava mais perdido que cego em tiroteio:

– Mas Seu Joaquim Fubá, já não estou entendo mais nada. O senhor veio aqui para retirar todo o seu dinheiro, contamos todo o seu dinheiro, todo o seu dinheiro foi depositado nos quatros sacos e agora o senhor pede para deixar o dinheiro aqui. O que é isso, Seu Joaquim Fubá?

– Nada não, Seu Gerente, é que eu queria ter a certeza absoluta de que meu suado dinheirinho estava devidamente seguro aqui.

Mesmo com a trabalheira toda, mesmo com paranoia do Joaquim Fubá, óbvio que o fim do dia foi salutar para o gerente.

* 1: Leia “Quando Joaquim Fubá Resolveu Abrir Uma Conta Bancária”.

* Texto: Eitel Teixeira Dannemann.

* Foto: Montagem de Eitel Teixeira Dannemann sobre foto publicada em 25/02/2020 com o título “Palacete Mariana na Década de 1960”.