FESTA DE FORMATURA DA GERUSA

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Quando a Gerusa, 20 anos, filha única do casal Paulo e Simone, recebeu no evento de formatura o canudo de Fisioterapeuta, foi uma emoção indescritível para eles. Ele, funcionário público, ela, dona de casa e fabricante de doces caseiros, suaram muito para bancar a filha na faculdade. Daí a emoção indescritível. Residentes no Bairro Antônio Caixeta, conhecidíssimos pelos vizinhos e adjacências pelos deliciosos doces caseiros da Simone e pela simpatia de ambos no convívio com qualquer um, moram numa casa confortável, sem luxo, mas digna.

No outro dia, em poucos minutos, foi decidido que haveria uma festa para os poucos familiares e os poucos amigos mais chegados para as comemorações de tão importante acontecimento. Umas trinta pessoas, talvez nem isso. E assim, consumindo um pouco das economias do casal, tudo foi programado, no quesito comes e bebes.

Na noite da comemoração, eis que os convidados foram chegando. No início, tudo de acordo, só os realmente convidados, os poucos familiares e os poucos amigos mais chegados. Gerusa estava esfuziante ao lado do namorado por causa de tantas felicitações, e muitos faziam questão de enfatizar que ela era a primeira doutora da família. Depois de pouco mais de uma hora, a coisa começou a degringolar. Aos poucos, conhecidos vizinhos e adjacentes do casal foram chegando. Um, dois, cinco, sete, dez, quinze, vinte, trinta… Paulo e Simone não sabiam o que fazer para estancar a hemorragia penetrativa. Afinal, eram vizinhos e muitos clientes dos doces da Simone. Óbvio, que ligeiramente os comes e bebes acabariam. Óbvio, que os reais convidados se sentiriam insultados com tanta gente não convidada. O que fazer? Foi então que o Paulo, muito perspicaz, teve uma excelente ideia para encerrar aquela invasão. Antes que os comes e bebes se encerrassem por causa dos invasores, ele, depois de ter comunicado aos reais convidados o que ia fazer, em alto em bom som, falou:

– Gente, que felicidade pra todos nós a presença de vocês. Minha filha Gerusa e seu noivo estão felizes demais da conta. Pra estabelecer os parentes de cada um, solicito que os convidados da noiva fiquem desse lado.

Muitos convidados da noiva se juntaram no tal lado.

– Os convidados do noivo, por favor, venham pra esse lado.

Muitos convidados do noivo se juntaram no tal lado.

Assim, um grupo de um lado, um grupo de outro lado. E o Paulo finalizou:

– Pessoal, encarecidamente e com muito respeito, peço aos convidados da noiva e aos convidados do noivo que se retirem, pois essa confraternização não é de noivado, e sim pra comemorar a formatura de minha filha, só com familiares. Boa noite!

Foi uma rápida debandada, sendo que muitos sussurraram entre si que nunca mais comprariam os doces da Simone. E assim, após o portão da casa fechado, a festança familiar varou a madrugada sem mais pendengas. E sabe-se lá o que aconteceu depois!

* Texto: Eitel Teixeira Dannemann.

* Foto: Montagem de Eitel Teixeira Dannemann sobre foto publicada em 06/06/2014 com o título “Antiga Rodoviária no Final da Década de 1970 − 1”.

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