TIRO DE GUERRA

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Antônio Carlos Lopes, nascido em 1870 na cidade gaúcha de Rio Grande, foi quem teve a idéia de criar Tiros de Guerra no Brasil. Depois de formado em Farmácia foi para a Suíça e lá se impressionou com o sistema de defesa daquele país. Retornando ao Brasil em 1902, concebeu a idéia de treinar grupos de pessoas que soubessem lidar com armas de fogo para que estivessem sempre aptos na defesa da nação.

Lopes acompanhou a Revolução Federalista (1893-1895) e a Revolta Armada (1893-1894), o que lhe propiciou alguma experiência em conflitos armados. Baseado nesta experiência, publicou dois livros: O Problema das Reservas do Exército e O Tiro Brasileiro, este adotado pelo Ministro da Guerra Hermes da Fonseca.

Para Lopes, “O Brasil possui o direito de aspirar à formação de instituições, as quais, nascidas no seio do povo, o preparem no conhecimento e uso das armas, para que a Pátria, no momento de perigo, lhes confiará para a sua defesa”. Com essa premissa, em 07 de setembro de 1902 nasceu a Sociedade de Propaganda do Tiro Brasileiro. Em 1906 a instituição foi transformada em Confederação de Tiro Brasileira, os Tiro de Guerra, pelo Ministério da Guerra.

O primeiro movimento para criar uma organização de serviço militar em Patos de Minas surgiu através de uma reunião organizada pelo professor Eduardo Lopes em 21 de julho de 1929. O objetivo era organizar uma Sociedade de Linha de Tiro. Tinha como Presidente nada mais, nada menos, que Monsenhor Manuel Fleury Curado; como Vice, Hugo José de Souza; Tesoureiro, Alexandre Dias; Secretário, Eduardo Lopes. Apesar dos esforços, a instituição não foi adiante¹.

Seis anos depois, o Decreto n.º 243, de 18 de julho de 1935, cria a Sociedade dos Tiros Incorporados. Mas só iniciou suas atividades em 1941, incorporado à Escola de Instrução Militar (EIM) de Carmo do Paranaíba, instalado no Ginásio Municipal Benedito Valadares², sob a direção do diretor e professor Anair Santana.

O Tiro de Guerra de Patos de Minas surgiu em 31 de outubro de 1945, através do Decreto n.º 8747, sob a denominação de TG 04-091, subordinado à Quarta Região Militar. Inicialmente funcionou no antigo prédio da Cadeia, até meados de 1951, quando se transferiu para o número 203 da Rua Deiró Borges, ficando lá até 24 de maio de 1956. Hoje, no local onde ficou até 1974, localiza-se o Hospital Vera Cruz. A Rua Vereador João Pacheco, nº 260, é a casa do Tiro de Guerra até os dias de hoje, já com a nova denominação: TG 04-013.

O Tiro de Guerra de Patos de Minas funciona com o apoio da Prefeitura mediante um acordo realizado entre a mesma e o comandante da Quarta Região Militar. O Executivo Municipal oferece as instalações tanto para o funcionamento do TG quanto para os instrutores e seus dependentes. O Prefeito é o Diretor do TG, e o artigo 30 da instituição diz o seguinte: “Representar o TG em suas relações com outras autoridades; providenciar em tempo oportuno, os meios necessários ao pleno funcionamento do TG”.

De acordo com o 2.º Regulamento, os Tiros de Guerra são órgãos de formação da reserva (OFR), que possibilitam a prestação do serviço militar inicial, no Município sede do TG, dos convocados não incorporados em organização militar da ativa (OMA), de molde a atender à instrução, conciliando o trabalho e o estudo do cidadão. Ainda, contribuir para estimular a interiorização e evitar o êxodo rural, constituir-se em pólos difusores do civismo, da cidadania e do patriotismo. Diferentemente dos soldados que recebem uma ajuda de custo, os atiradores não recebem nada, por isso a carga horária é reduzida, para que possam ter uma fonte de renda.

O Tiro de Guerra atua em duas frentes: o social e o militar. O atirador não é considerado um soldado. Num quartel, um soldado fica em média oito horas, durante cinco dias da semana, enquanto os atiradores ficam duas horas por dia, durante seis dias na semana (das 6 às 8 da manhã), atendendo o artigo 13 do Regulamento 138: “O regime de instrução será descontínuo, a fim de conciliar as atividades civis e militares dos atiradores”. No TG, o atirador aprende todas as instruções de cunho militar, aquilo que é inerente a todo soldado, como atirar, rastejar, tirar um serviço, orientação e outras atividades. Ele é preparado para alcançar o GLO (Garantia da Lei e da Ordem). No aspecto social, a participação em assuntos da comunidade como campanhas de vacinação, de combate à Dengue, ajuda aos mais necessitados. Regularmente são realizadas gincanas onde são recolhidos brinquedos e roupas que são posteriormente distribuídos nos bairros mais carentes da cidade.

O alistamento anual envolve muitos jovens, cerca de 600, dos quais somente 150 irão servir o TG. Esses jovens passam por diversas etapas, até serem selecionados. São exames médicos, testes psicológicos, físicos, níveis de escolaridade e condições econômicas e sociais. Há uma Junta Militar que determina os 150 escolhidos para as 40 semanas do curso.

Para facilitar a instrução e os treinamentos, os atiradores são divididos em três pelotões. Cada sargento fica responsável por um pelotão. Nas primeiras semanas são ministradas instruções, com o intuito de socializar cada um com os valores, atitudes e comportamentos apropriados à vida militar. São muitas ordens unidas (marchas coletivas e posturas próprias), instruções sobre regulamento e distribuição de uniformes.

Diferentemente do soldado, o atirador tem pouco tempo para a aprendizagem. As instruções são reguladas pelo Programa-Padrão Básico/1 e 5, Diretriz de Instrução do Comando de Operações Terrestres (COTER), Plano Regional de Instrução para o TG, Plano Regional de Inspeções, Relatório de Inspeção e Verificações, dentre muitos outros regulamentos existentes dentro do Exército. Isso faz com que a disciplina seja rígida nos comandos de voz sempre altos e fortes, detalhes como barba e cabelos sempre feitos, cumprimento dos horários, farda impecável, modos corretos de se comportar tanta no TG como na vida civil.

Atiradores antigos afirmam que no tempo da Ditadura a farda do TG dava um tremendo prestígio e que muitos jovens queriam vesti-la porque “despertava o interesse das moças”. Naqueles tempos, castigos físicos eram comuns, e isto era encarado como “coisa normal”. Por traz desta aparente normalidade, existia a idéia da masculinidade, a idéia de que lá dentro o atirador se transformaria num homem de verdade. A reclamação por qualquer que fosse o motivo era encarada como frescura. Quanto ao assunto homossexualismo, quando o jovem era apontado como tendo “jeito” era constrangido a pedir desligamento ou acabava sendo desligado a bem da disciplina.

Foram tempos de “linha dura” que passaram. O fato é que os castigos físicos de antigamente, até certo ponto brutais, são terminantemente proibidos. Hoje são vistos como forma de despertar a agilidade, atenção e até mesmo aumentar a preparação física. Mudou a intensidade e denominação do ato, antes severas e hoje mais amenas, como séries de flexões, mas sempre ligadas a uma idéia de punição.

O atirador é avaliado pela sua eficiência. Há uma distribuição de pontos que inicia com a entrada do atirador e corresponde à sua eficiência nas atividades propostas, tais como desempenho físico, assiduidade e responsabilidade, criando uma classificação e uma comparação. Caso ele não cumpra com suas responsabilidades e não adquira os pontos suficientes para sua permanência no TG, será desligado. O artigo 24, incisos I e III do Regulamento 138 diz o seguinte: “Concluir o período de instrução sem aproveitamento: atingir 75 pontos perdidos por faltas, durante o período de instrução”.

Nos tempos em que o Exército comandava os rumos da Nação, criou-se o discurso de que a vida militar “conserta” os jovens. Principalmente em cidades pequenas como Patos de Minas, esta mentalidade gerou o mito da influência do TG na sociedade pelo seu grande “poder”. Quem sabe isso vem do seu passado extremamente rígido no tratamento com os jovens e pelo seu poder “ilimitado”. Com a mudança da conjuntura nacional, o Exército mudou os mecanismos e hoje adota outros meios, mais brandos, onde a finalidade é incutir na cabeça do jovem o sentido de hierarquia para que ele adquira respeito, e não medo. Hoje o TG de Patos de Minas tem uma função social relevante, além da militar. Por isso muitos pais querem que seus filhos participem do TG a fim de adquirirem respeito, responsabilidade e disciplina. Mas, fundamentalmente, os pais devem se lembrar que estes valores são adquiridos na família. No TG, são apenas aprimorados.

* 1: Leia “Linha de Tiro: O Embrião do Tiro de Guerra”.

* 2: Leia “Ginásio Municipal de Patos”.

* Fonte: Monografia Tiro de Guerra: Entre a Disciplina e a Assistência Social, de Rosemere Maria de Resende Silva, editada em 2006.

* Fotos: Portal Exército Brasileiro.

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