[…] Aí me lembrei de uma passagem do Tiro de Guerra (o ano acho que não faz diferença, fato é que o Brasil já era tri mas ainda não era tetra), com um grande amigo meu, quase um irmão, o Dedé Zago. Este, além de companheiro de basquete, de colega pra escutar som, normalmente na casa dele (nós escutávamos muito Pink Floy, Gentle Giant, King Crimson, Yes, etc…, e principalmente, o que ele adorava, Kraftwerk), além de tudo ainda éramos companheiros de Tiro de Guerra.
Certa vez em um dia normal de TG (se é que é normal juntar 121 homens às 05h30m da manhã, todos os dias em nome de uma certa Segurança Nacional), o sargento Fernandes (a cara do Paulo Henrique Amorim) que era um cara muito inteligente e sensível para estar no Exército, numa época em que a ditadura estava no auge, o AI-5 ainda existia e os militares se revezavam no poder para degolarem toda e qualquer inteligência nova que aparecesse, nos dava instrução, este era o nome técnico da coisa e falava ele sobre tipos de crime. Falava ele na instrução sobre crime passional, crime hediondo, premeditado, e por aí vai. Foi quando ele percebeu que nosso personagem, o Dedé que sentava na última fileira de um dos lados da sala, (eram dois com um corredor entre eles) dormia com a cabeça encostada na parede que existia ali no fundo da sala. O Dedé é muito branco e gente branca de olho fechado não dá fundo, pra se ter certeza tem que chegar perto. Se a pessoa é negra se vê de longe, porque nota-se a falta do branco nos olhos de longe. Bom, fato é que o sargento deu alguns passos pelo corredor, naquela sala grande e de tábua corrida, e parou e bateu com o coturno no piso com toda força e ainda gritou:
– ZAAAAAAGOOOOOOO!
O alemão (este é o apelido que eu sempre o tratei) quase caiu da cadeira de susto e prontamente respondeu:
– Pronto, sargento!
Também respondeu bem alto, pensando que assim o fazendo iria se safar da ferrada. E o sargento já mandou a mortífera:
– Dois tipo de crime.
E o Dedé na mesma velocidade e firmeza:
– Faca e revólver.
Até o sargento riu.
* Fonte: Crônicas de Família, Amigos e Agregados (Por Favor, Não me Deixem Rir Sozinho), de M. Debrot.
* Foto: Institucional.