COMERCIANTE PÃO DURO

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Coincidência ou não, a maioria dos comerciantes são muquiranas. Vendem caro, pagam mal aos funcionários e é por isso a veracidade do alto grau de rodízio de pessoal nos comércios. Tem aqueles que consideram o cúmulo do absurdo um vendedor da loja ganhar mais de mil reais de comissão sem perceber que o funcionário que ganhou todo aquele dinheiro é porque vendeu demais da conta e ele teve muito lucro com isso. Um destes comerciantes, calçadista na Rua Major Gote, tem outra peculiaridade nefasta: abomina fazer caridade, de espécie alguma. Quando tem festa de algum santo de igreja na cidade ele some e se esconde lá não sei aonde, para evitar pedido de prenda para o bingo. Há dois anos, ficou sabendo que alguém o procurou para apoiar um site que registra a História de Patos de Minas. Mandou um recado: – A loja está à venda!

Conversa fiada, evidente. E de conversa fiada em conversa fiada, o sovina vai levando o seu negócio totalmente alheio às necessidades dos seus congêneres humanos. Até que um dia se viu diante de uma situação que exigiu muita perspicácia para não permitir que seu bolso fosse aliviado desnecessariamente. Uma Comissão de representantes de conhecido estabelecimento que promove a caridade aos necessitados o procurou com o objetivo de conseguir uma doação generosa. Era gente do escol. O avaro se viu em maus lençóis, não podendo dispensar os solicitantes da forma costumeira, senão seria um papelão. Como se livrar desta enrascada?

Ladino, ele logo mancomunou com seus neurônios e encontrou a solução. Na maior pose, perguntou a quantia a ser doada. Recebido o valor da mordida, preencheu um cheque na maior pompa e entregou aos interessados. Todos sorridentes, 480 apertos de mãos, agradecimentos aos montes, deu-se por encerrado o encontro. A vida seguiu. No outro dia, um dos representantes da Comissão procurou o comerciante alegando que o cheque, por um descuido das partes, estava sem assinatura. Com o sorriso mais maroto do mundo, o comerciante mão-de-vaca explicou:

– Meu prezado, sempre faço doações aos necessitados, e quando assim procedo, é no mais profundo anonimato.

* Texto: Eitel Teixeira Dannemann.

* Foto: Montagem de Eitel Teixeira Dannemann sobre foto publicada em 10/04/2017 com o título “Jardineira de Pedro Gomes Carneiro”.

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