TEXTO: JORNAL O TRABALHO (1908)
Completamos o nosso terceiro anno de existencia, rompendo altaneiros, mourejando para a causa, que, com o maior interesse, espozamos.
As varias oscillações que o nosso jornal tem, nesse curto perpassar de tempo, soffrido, não justificaram no entretanto motivo para que a sua pauta se desmerecesse no conceito em que sempre se manteve.
Horas de saudades, os goivos, as perpetuas com que se teceu a grinalda para o esquife do seu mallogrado fundador dr. Antonio Nogueira de Almeida Coelho ahi estão vividas, perfumosas, trescalando o ambiente até onde o nosso jornal tem se feito sentir.
A sympathia com que os nossos queridos amigos o tem recebido e animado no diario de sua jornada faz-nos experimentar essa sensação de gratidão que nos penhora e reanima na afanosa lida de quem se onerou com a incumbencia espinhosa de estar a testa dos interesses geraes que se ligam as necessidades locaes e se melhor e mais felizes não temos sidos, a bôa vontade consorciada com o maior do encargo nos revigoram attestando eloquentemente em nosso favor.
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Foi na bella e esplendorosa manhã do dia 15 de agosto de 1905 que, redigido pelo espirito culto, altamente patriota e emprehendedor do inolvidadel e saudosissimo Dr. Antonio Nogueira de Almeida Coelho, esse coração sempre aberto aos grandes ideaes e que só palpitava pelo desenvolvimento desta terra que sempre amou e que lhe foi tão ingrata, esse grande obreiro do progresso que a mão negra do destino fez rolar na pavorosa escuridão do tumulo do modo o mais cruel, foi nesse dia consagrado á Excelsa Rainha dos Céos, quando a natureza voltada para os paramos azues do infinito, depositava aos pés da Mãe do seu Creador as suas homenagens que, sem festas, sem pompas, como soe acontecer nas grandes emprezas, foi distribuido o 1.º numero d’O Trabalho nesta cidade.
Humilde como um camponez, mas cheio de esperanças, elle bateu de porta em porta e todos deram-lhe carinhoso agasalho auxiliaram-n’o, prestando-lhe o apoio de que necessitava e assim tem elle vivido ate aqui, com pequenas interrupções, pugnando com ardor pelos interesses da collectividade e especialmente deste vasto e rico Municipio; e ahi está comemorando com o presente numero o seu terceiro anno de luctas e prompto para, enfrentando a todas as difficuldades que se lhe anteponham, attingir a meta desejada: o completo desenvolvimento moral e material desta terra que lhe serviu de berço.
É preciso, porem, que todos continuem a auxilial-o para que possa viver, é preciso que cada um concorra com o seu contingente de forças para impulsional-o, já pagando as assignaturas e angariando novos assignantes, já collaborando com artigos uteis, de interesse geral, instructivos e amenos que o tornem mais variado, attrahente e agradavel a todos.
Nessa espectactiva continuaremos firmes neste posto de sacrificios em que nos collocamos, e não esmoreceremos um só instante mesmo arrostando as maiores dificuldades para mantel-o regularmente.
F. Pinto¹.
* 1: Fortunato Pinto da Cunha, proprietário do jornal e considerado o “primeiro” fotógrafo a registrar a Cidade.
* Fonte: Edição de 20 de agosto de 1908 do jornal O Trabalho, do arquivo da Hemeroteca Digital do Triângulo Mineiro e Alto Paranaíba, via Altamir Fernandes.
* Foto: Dois primeiros parágrafos do texto original.