Quase três meses após a suspensão de suas atividades, “O Trabalho”, primeiro jornal escrito e impresso em Patos de Minas, voltou a circular no dia 11 de março de 1906. A paralisação havia sido provocada pela falta de dinheiro suficiente para bancar a compra do material necessário à impressão do periódico, conforme se pode depreender da leitura dos avisos inseridos nas duas últimas edições entregues aos leitores, em 09 e 20 de dezembro de 1905, nas quais os donos da publicação esclareciam que a continuidade de sua circulação dependia do pagamento das assinaturas ainda em aberto.
Mas da mesma forma como ninguém pode afirmar se outras razões, além de financeira, contribuíram para a decisão tomada cerca de oitenta dias antes pelos editores, também permanecem desconhecidas as providências que Antônio Nogueira Coelho e Fortunato Pinto da Silva adotaram para solucionar o problema que tinham em mãos. O fato é que o jornal voltou a circular no final da primeira quinzena de março de 1906, e a explicação sobre o ocorrido aparece na primeira página da edição de número 14, em uma nota intitulada “O Trabalho”, onde o redator apresenta aos leitores a versão da empresa sobre os acontecimentos:
Reencetando a publicação de nossa folha, depois de quase três meses de interrupção, cumpre-nos dizer os motivos que nos forçaram a isso. Havendo nós pedido do Rio o papel-mimeógrafo indispensável à impressão do nosso jornal, antes muito de terminado o modesto estoque que dele tínhamos, respondeu-nos a casa em que nos abastecemos dele, que não o tinham na ocasião, e sim na alfândega, e que logo o recebesse, no-lo enviaria, ficando-nos assim creditada a importância que lhes havíamos remetido. Entretanto, só agora recebemos o papel, cuja demora atribuímos a um lamentável esquecimento da casa,
Fossem outras as condições de comunicação de nossa cidade, e já há mais nos teríamos desobrigado para com o público. Dando estas explicações necessárias, declaramos que daremos o nosso jornal semanalmente, até que se completem os números que não demos pelos motivos apontados. Cumpre-nos agradecer o apoio que nos tem sido dispensado, e de nossa parte prometemos desenvolver o nosso jornal, tanto quanto ele comporte.
Como se observa, o autor da nota foi extremamente elegante para com os assinantes que deviam ao jornal, já que preferiu atribuir às dificuldades de comunicação existentes na época a responsabilidade pela desagradável ocorrência que tantos comentários havia ocasionado. Ainda na mesma matéria, o jornalista também demonstrava a lisura de comportamento dos responsáveis pela publicação, pois declarava que “O Trabalho” iria circular semanalmente durante certo tempo, até serem completadas as edições não impressas em virtude da paralisação forçada.
* Fonte e foto (capa do 1.º número do jornal): O Trabalho, do arquivo de Fernando Kitzinger Dannemann.
