TEXTO: DIRCEU DEOCLECIANO PACHECO (1984)
Fiz na última semana, uma visita que a contragosto fora adiada por mais de uma vez, em virtude de inúmeros afazeres e compromissos. Enquanto a vista transcorria, pensando no trabalho realizado por um pequeno grupo de homens e senhoras, moças e rapazes, que ao longo dos últimos anos vêm desenvolvendo uma ação gigantesca nessa terra, no campo da música, do teatro, da pintura, da dança, da escultura, da arte enfim, sem que este esforço nem sempre seja reconhecido e diante do que via agora, vieram-me à mente as palavras de Gonçalves Dias, em seu célebre poema “Y-Juca-Pirama”, no qual um velho indígena, transmitia ao filho a sua filosofia de vida, aprendida ao longo de uma existência difícil e cheia de percalços:
“…Não chores que a vida
é luta renhida,
viver é lutar.
A vida é combate
que aos fracos abate
e aos fortes e aos bravos
só pode exaltar…”.
Ali estava a prova do idealismo de quem luta muitas vezes, contra tudo e contra todos, pois o idealismo se caracteriza exatamente pela luta de quem cai, para se levantar logo a seguir, erra e procura corrigir-se pela lição tirada do erro; sabe receber as críticas, deixando de lado as destrutivas e tirando proveito das construtivas; não se desanima ante as decepções, e a falta de apoio; não desiste quando sopram os ventos dos insucessos e acima de tudo, não se deixa iludir pelos momentos de glória, mas acumula neles uma ânimo novo e o desejo de prosseguir.
Via ali, o prêmio à perseverança de quem desinteressadamente busca servir à arte e à cultura, dando de si o que há de melhor.
Ali estava diante de meus olhos, o que se convencionou chamar CENTRO DE ARTES DA FUCAP, com suas várias salas devidamente equipadas para o aprendizado de Música (piano, órgão, violão, contrabaixo, instrumentos de sopro e bateria), de Teatro, de Artes Plásticas, de Dança e de Literatura. Era um verdadeiro presente que a Fundação Cultural do Alto Paranaíba oferecia a Patos de Minas e a toda a região, à espera de que o povo venha dele desfrutar.
Já em funcionamento desde meados do ano passado, agora ampliado em sua área física e com a inclusão de novos cursos, o Centro de Artes, inaugurado solenemente no início do mês passado, conta já com mais de uma centena de alunos e está pronto a receber muitos outros mais, oferecendo ao nosso povo, indiferentemente de idade, uma opção cultural e artística que há poucos anos atrás, poderia nos parecer impossível.
Necessário se faz agora, que o povo em geral e as autoridades constituídas de um modo especial, procurem dar o seu decidido apoio àquela instituição, que como boa semente, haverá de germinar, crescer e produzir muitos frutos.
Ao final da visita refletindo cada vez mais, na obra daquele grupo de verdadeiros idealistas, com mais força ainda, me vieram à mente as palavras do imortal poeta:
“A vida é combate que aos fracos abate e aos fortes e aos bravos só pode exaltar”.
* Fonte: Texto publicado com o título “Idealismo e Perseverança” no Editorial do n.º 88 de 15 de março de 1984 da revista A Debulha, do arquivo de Eitel Teixeira Dannemann, doação de João Marcos Pacheco.
* Foto: Institucional.