PELO FORTALECIMENTO DO MEIO RURAL

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TEXTO: RAFAEL GOMES DE ALMEIDA (1983)

Eu quero que os leitores me perdoem, porque durante um tempo razoável eu estive preocupado em estudar a vida nacional e deixei de escrever sobre a nossa cidade. Acontece, que na utopia do Jornalismo de interior, a gente sempre pensa que é possível sensibilizar as autoridades de nosso país, criticando o que nos parece errado, mas tendo a lealdade de apresentar as prováveis soluções para os equívocos apontados. Agora, com o recesso parlamentar, vamos situar os problemas e comentar a vida de nossa cidade.

Muita gente tem se preocupado com o desenvolvimento de Patos de Minas, principalmente no setor de construção civil, e muitos chegam a não entender como se pode construir tanto, quando se fala em tanta crise.

Acontece que Patos é uma cidade devotada à Agro-Pecuária e quando as coisas caminham bem para este setor, a cidade se deslancha.

Outro fator que pode parecer estranho, mas que é fundamental para o crescimento da cidade, é que Patos tem um crescimento industrial muito lento e como o emprego se torna difícil, as pessoas preferem não se arriscar e continuam no meio rural.

Diga-se de passagem, quando advem um crescimento industrial numa cidade e, não sendo este bem planificado, antes de ser um bem para a comunidade, torna-se num mal que dificilmente, pode ser medido, pois a grande verdade é que, no Brasil as indústrias não geram emprego ordenado e sim, empregam mão de obra que antes estava ocupada em outro setor. Cria-se um aparente emprego num setor de industrialização ou transformação, mas perde-se o emprego da produção, ocasionado pelo êxodo rural. Pode-se, resumidamente, dizer que em tais casos, arrumamos a sala se visita, mas nos esquecemos de trazer a cozinha organizada. Em Patos a sala de visita é bastante modesta, mas a cozinha não é miserável e isto é muito importante.

Um outro aspecto que tem chamado a atenção das pessoas que militam em nosso meio é que, aparentemente, Patos tem tido uma valorização muito pequena para os bens imóveis, fato este que não chega a se constituir numa verdade econômica. A grande verdade é que a riqueza patense é muito bem distribuída e os imóveis, depois de um certo preço, tornam-se inegociáveis para a grande maioria dos patenses. Em contrapartida, os negócios de pequeno e médio portes são frequentes em nosso meio.

O resultado de tudo isto é que, enquanto as moratórias e as falências se sucedem em outras cidades, aqui em Patos vamos levando uma vida sem riscos e sem excessos. Não há como se negar que somos um povo individualista e esta individualidade, antes combatida e prejudicial está agora sendo benéfica porque, em sã consciência, ninguém consegue traduzir os destinos da economia brasileira.

É importante, no entanto, que o povo compreenda que na vida empresarial as atuações individuais podem não prejudicar a coletividade, mas quando se fala em vida social, nela incluída a vida política, a individualidade tem que desaparecer, pois se isto não acontecer vamos dar um retrocesso muito grande e acabaremos por perder representantes de nossa região, chamados por nossa cidade, para defender o bem comum.

O processo industrial, em nossa região, tem que ser posto como uma opção para se ocupar a mão de obra, desde que esta ocupação não desvie as pessoas do meio rural para o meio urbano. Precisamos, isto sim, de dar um exemplo para o Brasil de tal forma a se montar uma infra-estrutura rural de tal ordem que o rurícola não seja seduzido pelo fascínio da cidade. Acredito que Patos está amadurecida para este procedimento e se conseguirmos oferecer ao trabalhador rural as vantagens de uma vida digna, iremos em pouco tempo descobrir que a produção rural é mais importante que a produção industrial.

* Fonte: Texto publicado com o título “E a cidade não ressente!” na edição n.º 82 de 15 de dezembro de 1983 da revista A Debulha, do arquivo de Eitel Teixeira Dannemann, doação de João Marcos Pacheco.

* Foto: Segundo, terceiro e quarto parágrafo do texto original.

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