PELA PRESERVAÇÃO DE NOSSAS LAGOAS

Postado por e arquivado em ARTIGOS.

TEXTO: OSWALDO AMORIM (1983)

Como todo mundo sabe − ou deveria saber −, Patos nasceu à beira de uma lagoa cheia de Patos selvagens, na trilha para Paracatu, uma das nossas Vilas do Ouro, a partir de um primitivo pouso de tropeiros, plantado nas proximidades de nossa velha cadeia. A lagoa, situada na baixada que se estende da cadeia até um pouco além do Mamoré, secou¹. Mas os patos pousaram definitivamente em nosso nome e nossa alma, que adora os voos largos da liberdade.

Por tudo isso, além da vantagem estética, teria sentido histórico uma lagoa, sempre cheia de água e patos, em nossa cidade. Reconstruir a extinta lagoa não é mais possível. Mas podemos, perfeitamente, cuidar da lagoa grande (que já perdeu até o antigo adjetivo), da lagoinha e da lagoa do trevo, considerando-a como um conjunto, do qual o bosque é parte indispensável. Temos, também de fazer o possível para incluir neste elenco a bonita e meio escondida lagoa da vargem fria, também próxima ao Trevo da Pipoca.

A prioridade evidente é da lagoa grande, que infelizmente já perdeu mais da metade de sua área². A propósito, as informações contidas no bem-humorado artigo de J. S. Alves de Oliveira, sobre o projeto da Prefeitura para a lagoa³, deixaram-me bastante preocupado. De acordo com essas informações, a lagoa, que já encolheu demais, primeiro com a horta dos japoneses e principalmente com a construção da nova rodoviária, seria reduzida a um simples espelho d’água. Assim, a maior parte dos espaços remanescentes seriam aterrados4.

Há longos anos que defendo a urbanização da lagoa grande. Mas não nestes termos. Creio que nosso dever é tentar criar, na área remanescente, uma bonita lagoa, sempre cheia d’água e palmípedes, com barcos e pedalinhos, rodeada de árvores e palmeiras, e envolvida por uma pista asfáltica. Seria um belo local de lazer, com seu forte na própria lagoa, necessariamente dotada de abastecimento, capaz de conservá-la sempre cheia, inclusive no clímax das estiagens. Se isso não fosse possível, partiríamos para a solução do espelho d’água e do conjunto de áreas de lazer, nos espaços aterrados.

O ideal para Patos, entretanto, seria a primeira opção. A segunda, repito, só deve ser considerada depois de esgotadas as possibilidades da primeira, pois na alma de todo patense há uma lagoa cheia de patos.

As áreas de lazer porventura planejadas pelos arquitetos e engenheiros da Prefeitura já existem no grande parque idealizado pelo professor Radamés Teixeira, ao longo de um trecho da Rodovia do Milho, da Ditrasa até além da entrada para o Batalhão, no projeto que ele, a meu pedido, doou à Prefeitura de Patos. Mas essas áreas de lazer podem e devem ser criadas, também, nas faixas urbanas alagáveis do Rio Paranaíba e do Ribeirão da Fábrica − fazendo um uso inteligente de terrenos que, definitivamente, não devem ser edificados, para evitar aos futuros moradores o flagelo das enchentes. E, naturalmente, em inúmeros outros pontos da cidade.

Creio que é nosso dever, igualmente, tentarmos a recuperação e a urbanização da lagoinha, promovendo, antes de mais nada, a canalização dos esgotos de toda a área, sabidamente pobre, dando saúde e beleza a um local hoje degradado. A lagoinha seria também rodeada de árvores e palmeiras e por uma pista asfáltica. Portanto, transformada num recanto aprazível5.

Quanto à lagoa do trevo, preocupa-me mais, o problema legal de sua preservação do que propriamente a sua rápida urbanização. Vou ser mais claro: a lagoa grande e a lagoinha são áreas públicas. Já a lagoa do trevo está dentro de uma propriedade particular. Logo, por melhores e mais bem intencionados que sejam os proprietários atuais6, não há qualquer segurança, a longo prazo, quanto à sua preservação. Impõem-se, por isso, a necessidade, no mínimo, de seu tombamento, juntamente com o bosque − pois ambos formam um conjunto de extraordinária importância, sobretudo no futuro. Especialmente se se leva em conta que nas adjacências do Trevo da Pipoca pode estar o embrião de uma nova Patos7.

Dentro do mesmo espírito, seria formidável que a Lagoa da Vargem Fria (o batismo é meu), a maior de todas elas, pudesse ser também legalmente preservada − para maior encanto da grande Patos de Minas8.

* 1: Leia “Lagoa do Sítio Os Patos”, “Panorâmica na Década de 1940 com a Antiga Matriz, a Cadeia, a Igreja do Rosário e a Lagoa dos Patos”.
* 2: Leia “Loteamento Ilídio Caixeta de Melo”.
* 3: Leia “Réquiem de uma Lagoa”.
* 4: Leia “Apresentado o Projeto do Parque Dr. Itagiba”.
* 5: Leia “Parque João Luiz Redondo”.
* 6: Leia “Posto Patão à Venda em 1999”.
* 7: Leia “Bosque e Lagoa do Patão Agonizam”.
* 8: Leia “Vargem Fria: Foi-se Outra Lagoa”, “Foi-se Mais Uma Lagoa”, “Mais Uma Lagoa se Aproxima do Fim”, “Réquiem Para Seis Lagoas”.

* Fonte: Texto publicado na edição n.º 79 de 31 de outubro de 1983 da revista A Debulha, do arquivo de Eitel Teixeira Dannemann, doação de João Marcos Pacheco.

* Foto: Eitel Teixeira Dannemann, publicada em 03/01/2014 com o título “Loteamento Ilídio Caixeta de Melo”.

Compartilhe