Dizem os entendidos no assunto que os cães chegaram ao Brasil nas naus e caravelas a partir do século 16. E sem ser entendido no assunto, pode-se afirmar que nossos pioneiros os trouxeram. Como eles adoram se reproduzir, pode-se afirmar que em determinado tempo tornaram-se problema de saúde pública no então Arraial de Santo Antônio dos Patos da Beira do Rio Paranaíba, que depois teve o nome mudado para Vila de Santo Antônio dos Patos em 1866, que depois teve o nome mudado para somente Patos em 1892, que depois teve o nome mudado para Guaratinga em 1943 e finalmente teve o nome mudado para Patos de Minas em 1945.
O problema dos cães vadios só começou a ser registrado com o surgimento do nosso primeiro jornal, O Trabalho, em 1905. São inúmeras matérias a respeito, uma questão realmente insolúvel, com a maior responsabilidade do poder público que não tem por costume solucionar o caso. Em 1943, o Centro de Saude de Patos − 19.ª Circunscrição Sanitaria resolveu tomar providências contra os cães vadios e também contra os cães com donos que tinham por costume zanzarem pelas ruas − os cães −, e ainda contra os suínos soltos no perímetro da Cidade. Para tal, publicou na edição de 04 de julho daquele ano no jornal Folha de Patos¹ esse aviso:
Levo ao conhecimento dos interessados que este Centro de Saude, de acordo com o Regulamento em vigor, vae tomar as necessarias medidas com relação aos numerosos cães vadios que infestam as ruas da cidade, ameaçando os transeuntes e servindo de meio de propagação da hidrofobia (raiva), molestia esta já verificada em numerosos cães encontrados no perímetro da cidade. Afim de não surgirem queixas infundadas contra taes medidas e nem aborrecimentos á quem quer que seja, peço aos srs. proprietarios de cães para trazê-los presos afim de não sofrerem as consequencias das medidas de saneamento a serem postas em pratica em ocasião oportuna. Tambem ficam avisados os srs. proprietarios de suinos existentes no perimetro da cidade para retirá-los dentro do menor prazo possivel, afim de se evitarem as necessarias intimações para isto, de acordo com as exigencias sanitarias em vigor.
Patos, 1 de julho de 1943.
Dr. A. Carneiro Maciel,
Chefe do Centro de Saude.
Como outras muitas matérias de jornal vieram após esse aviso, pode-se afirmar que essa determinação não foi à frente ou foi ineficientemente aplicada. E como muitas outras matérias continuam chamando a atenção para o problema, significa que o caso é mesmo insolúvel, pois intenções e projetos surgem aos montes, mas não saem do papel. Enquanto isso, recebendo alimento e água, os cães vadios estão cada vez mais numerosos em nossos logradouros públicos e se reproduzindo velozmente, já passando a população dos oito mil, de acordo com entendidos no assunto, sem se saber como foi feita essa contagem.
* 1: Arquivo da Fundação Casa da Cultura do Milho, via Marialda Coury.
* Texto: Eitel Teixeira Dannemann.
* Foto: petz.com.br, meramente ilustrativa.