O nosso Municipio nasceu e se criou na abastança. A opulencia de suas terras deram-lhe sempre situação de fartura. A fortuna publica cresceu na sub-divisão da propriedade rural, desconhecendo-se aqui as grandes diferenças de fortuna. Todo mundo tinha o seu pouco, e ninguem tinha seu muito. E assim se viveu, “na abundancia agreste da lavoira”, para se recordar o lindo verso de Junqueiro.
A convulsão da guerra, atingindo-nos, está subvertendo a ordem velha, e criando uma situação nova.
As dificuldades com que tem de lutar o pequeno sitiante − partidas dos impostos economicamente mal arrecadados, passando pelas leis protetoras das profissões liberais que abriram a porta para a exploração, até o encarecimento espantoso dos objetos necessarios à lavoura, aliando-se a falta de transportes e á ganancia dos especuladores, deixaram-lhe em condições de procurar outro caminho − e de demandar a outras terras, nascendo dai o velho problema das migrações que despovoam uma região e mudam-lhe a fisionomia social.
A pequena propriedade está desaparecendo de nosso meio, e com ela a lavoura.
Nasce, a pouco e pouco, o grande latifundio, constituido de magnificas invernadas, povoadas por zebú, este amigo de poucos e inimigo de muitos.
Do emaranhado destes problemas de complexidade aflitiva, saltou o espectro da fome, que baila em redor dos lares pobres.
A questão é grave, e na sua premencia, exige resolvida prontamente.
Medidas de carater energico o povo reclama dos poderes de coordenação economica e estes com serenidade devem toma-las, não se esquecendo nunca das tendencias dos novos tempos, onde o direito da coletividade se sobre-põe ao direito do individuo. E estas medidas de emergencia devem ter extenso carater social, e que venham dar novas diretrizes, ou abrir caminho à solução dos graves problemas que a nossa sociedade enfrenta. Ainda é tempo de resolve-los sem grandes comoções.
Ninguem, na vida, deve deixar uma oportunidade passar.
* Fonte: Texto publicado com o título “Oportunidade” na edição de 30 de maio de 1943 do jornal Folha de Patos, do arquivo da Fundação Casa da Cultura do Milho, via Marialda Coury.
* Foto: Trechos do artigo original.