UM IDEAL

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Eu sou a folha solta do missal dos teus anseios, a estrofe derradeira do poema que te inspirou o martírio de uma alma embalada na vertigem do grande sonho.

Sou o Ermitão, que te deu descuidado a sorrir o primeiro e unico poema que cantou, despercebido de que as auras o podiam levar para o desconhecido e quem sabe se entoando o miserére do esquecimento.

Sou a saudade, a solidão a soluçar a musica das esperanças que me acendeste na alma.

Sou a mocidade imolada a fascinação de um grande amor, que ofereço em holocausto a tua ventura.

Despojo-me de todas as gemas guardadas no panteismo dos meus sonhos dadivando-os, a ti, que me inspiraste o maior dos cultos e a mais santa apoteose, ante o sacrario augusto onde fulgiste como a esperança unica de uma ventura estranha.

Na solidão escura dos meus dias és a recordação constante, o astro a cintilar.

Sinto ainda os teus olhos fitos nos meus, refletindo no fundo das pupilas ardegos sonhos em mundos ingratos.

Não te envadeças, não fujas, quando as rosas da vida cobrirem-te afagos, voando de quimera em quimera, chega um dia em que morre despojado das lindas cores das tuas fantasias.

Vivem em mim numa aurora de jubilo as tuas voluções da união, amo a tua fascinação e tenho zelo de ti.

Não foras um sagrado simbolo da minha religião eu te despeçaria, destruindo-te para que ninguem te desejasse nem te roubasse a minha adoração e a minha confiança.

Juntos pelo mundo seriamos a gloria, a consagração, o triunfo…

Longe, separados? Seremos como as folhas secas caidas do arvoredo, esparças pelo vento, abandonados no turbilhão do vento.

JORGE VENEROSO¹

Capelinha.

* 1: Jorge Veneroso nasceu no Paraguai em 23 de abril de 1901. Destacou-se na então comunidade de Capelinha do Chumbo² como farmacêutico, fazendeiro, chefe político e foi um dos responsáveis pela construção da Vila Vicentina. Era casado com Geralda Veneroso, com quem teve os filhos Graci Expedita Veneroso, Orlando Veneroso, Maria Espedita Veneroso, Felizarda Veneroso, Jorge Veneroso Filho e Dinorá Veneroso. Faleceu em Goiânia em 30 de abril de 1993. (Do livro Ontem Capelinha… saudades, Hoje Major Porto… realidade).

* 2: Pela lei estadual nº 2764, de 30/12/1962, a comunidade de Capelinha do Chumbo foi elevada à categoria de Distrito com o nome de Major Porto.

* Fonte: Texto publicado na edição de 04 de abril de 1943 do jornal Folha de Patos, do arquivo da Fundação Casa da Cultura do Milho, via Marialda Coury.

* Foto: Do livro Ontem Capelinha… saudades, Hoje Major Porto… realidade.

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