TEXTO: JORNAL FOLHA DE PATOS (1937)
Patos, a encantadora cidade do extremo oeste mineiro, não é somente a terra do trigo, dos grandes rebanhos de bovinos e de suínos, dos cereais, dos homens do comércio e de inteligência, mas, também é a terra romântica dos garimpeiros. Aí estão estes sonhadores que, embalados pela doce esperança do encontro feliz, mergulham-se na barranca de um rio e passam dias de sol causticantes e noites friorentas, sem reparar nos pés que vão sangrando no cascalho bruto, sem pensar na má alimentação que depaupera o organismo, indiferentes, sonâmbulos e visionários.
Um dia virá a pedra da felicidade, amanhã, talvez, na próxima peneira de arame, ela vai brilhar, cisma banzando na esteira, à noite, o garimpeiro, olhando as estrelas que piscam no azul dos céus, com o coração voltado para o lar, para os entes queridos que lá ficaram. E constrói palácios encantados, onde a eleita de seus sonhos ou a esposa distanciada e ali tão perto de sua alma, será rainha, coberta de jóias, irradiando alegria, graça e perfume.
Com estes pensamentos incompletos povoando a nossa cabeça, resolvemos ouvir, eis que se acha entre nós, não o forte comerciante, capitalista e industrial, mas sr. Bermudes Afonso de Castro, o mais famoso garimpeiro da nossa zona.
Olhos vivos e penetrantes – o distinto cavalheiro – recebeu-nos gentilmente. Íamos ouvir Bermudes, o homem feliz, para quem os sonhos de há tanto acalentados passaram a ser realidade preciosa.
– Teríamos prazer em relatar aos nossos leitores onde e quando o sr. achou os primeiros diamantes? – perguntamos para iniciar a conversa.
O nosso interlocutor, cuja vivacidade aumenta quando se lhe fala em garimpo, adiantou-nos logo:
– Lá para os meados de setembro de 1934, remexia o cascalho do São Bento, ali em Quintinos, quando encontrei o primeiro diamante de 74 quilates.
– E correu logo para vendê-lo?
– Não. Ali continuei o meu trabalho, na certeza de que minhas previsões não eram infundadas. Pouco depois experimentei uma nova sensação. Era possuidor de mais outro de 81 quilates. Ao notar o nosso espanto, continuou. Ainda fiquei até que peguei aquela de 98 que coroou o meu trabalho, o meu ingente trabalho.
– E depois?
Naquela mesma época, em menos de um ano, encontrei os dois diamantes extraordinários de 109 e 151 quilates. Não tive pressa em vendê-los. O que fiz só mais tarde pela importância de 2.455.000$000.
– Daí para cá abandonou o garimpo? Indagamos novamente.
– De forma alguma! Continuei com mais firmeza e tenho obtido ótimos resultados e maiores e mais fagueiras esperanças.
Há mais de quinze anos que sou garimpeiro. Percorri os melhores e mais afamados garimpos de Mato Grosso, Goiás e Bahia e posso dizer com conhecimento de causa que todos são inferiores aos deste município riquíssimo.
– O sr. tem certeza dessa afirmação?
– Absoluta. Patos é ainda inexplorado. A minha experiência, a longa prática que adquiri do assunto, autorizam-me a afirmar e reafirmar que a exploração de diamantes ainda não principiou aqui.
– Tem outros serviços de garimpo, atualmente em nossa terra?
– Agora, não. Pretendo ir ao município de Goiandira, no distrito de Nova Aurora, Goiás, a fim de realizar compras da pedra bruta. E sacando de um picuá, disse-nos: Veja isto! Eram dois diamantes de primeira água adquiridos naquela zona. E enquanto as volutas de fumaça branca de seu charuto iam subindo em espirais, nós continuamos a meditar nas afirmações de um sábio.
Davi Draper, o grande conhecedor de diamantes, autoridade incontestável no assunto, fez, há longo tempo, assertivas categóricas a respeito da existência de uma chaminé diamantífera em Patos. Outros mestres o contestam. Contestam com argumentos convincentes. Mas, a prática está demonstrando que Davi Draper tem razão. O sr. Bermudes que sentiu a realidade do fato pode contestar a fala dos sábios. Patos é ainda inexplorado. Os pequeninos diamantes que consegui no primeiro serviço, 513 quilates, são apenas amostras, disse-nos afinal o mais próspero dos garimpeiros.
* Fonte: Texto publicado na edição de 17 de julho de 1937 do jornal Folha de Patos, do arquivo do Laboratório de Ensino, Pesquisa e Extensão de História (LEPEH) do Unipam.
* Foto: Br.depositphotos.com, meramente ilustrativa.