PRESERVEMOS OS NOSSOS SÍMBOLOS

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ATEXTO : DIRCEU DEOCLECIANO PACHECO (1984)

O grau de cultura e de desenvolvimento de um povo, pode ser medido pela importância que esse povo dá aos seus símbolos, à sua recordação, à sua memória, e a isto se chama tradição, daí, dizer-se que “tradição é cultura”.

Dentro do contexto de tradição, pode-se afirmar, que Patos de Minas – nos seus quase noventa e dois anos, é ainda uma cidade jovem e ainda que consideremos os cento e vinte e seis anos da instalação do município – que hoje, 29 de fevereiro de 1984, se comemoram – podemos ser considerados um povo jovem, mas mesmo assim, muita coisa de nossa memória já se perdeu, através dos anos, por desconhecimento, por displicência ou até por total falta de interesse.

Somos de um modo geral, um povo que não se preocupa com a sua tradição. Vejamos apenas dois pequenos exemplos:

1) Eu que sou daqueles contados atualmente como “homens de meia idade”, tenho bem vivos na memória, os dias felizes que passei em companhia de meu irmão mais velho e de dois primos, na fazenda do também nosso primo Flausino Pacheco Lou (mais primo de nossos pais do que nosso).

Era então uma longa caminhada que fazíamos até a fazenda que nos parecia tão distante e cuja sede construída sobre esteiros de aroeira, admiravelmente ostentava seus dois andares, e a singeleza de seu nome se transmitira à própria fazenda – “Sobradinho”.

Eis que um dia, a cidade antes tão distante, chegou até à fazenda, que loteada, cedeu lugar a um dos mais belos bairros da cidade, o qual depois de alguma celeuma, acabou recebendo oficialmente o nome que não poderia ser outro: “Bairro Sobradinho”. Entretanto, o povo, tenho a certeza, constituído na maioria por quem não conhecera a bucólica paisagem de outrora e talvez por considerar o mais importante, insistiu e insiste até hoje, em chamar o bonito bairro de “Guanabara”, nome que pode ter muito sentido para o povo carioca, mas que muito pouco significa para nós.

2) Desde os primórdios de nosso município, as belas lagoas o marcaram de tal maneira, que os inúmeros patos selvagens que nelas viviam, acabaram por fixar o seu topônimo.

Duas delas eram designadas por Lagoa Grande e Lagoinha, pela óbvia diferença de suas dimensões e mais uma vez, me reporto à minha infância, para fixar-me na bela e perigosa “Lagoa Grande” em cujas margens, fugindo à vigilância de meus pais, “dei as minhas primeiras braçadas”, antes mesmo da inauguração da piscina do PTC.

Na década de 50, aqui chegou uma numerosa família de japoneses, e alguns de seus meros, dados à prática da horticultura, se estabeleceram às margens da bela lagoa, no seu labor diário.

Apesar dos laços de amizade que desde a sua chegada, uniram aquela família nipônia à nossa família e apesar do respeito que sempre nutri por ela, nunca pude aceitar que de repente a lagoa tivesse o seu nome mudado para “Lagos dos Japoneses”. Mas a mudança foi feita e aqueles que, mais uma vez, tenho certeza, não conhecem a tradição, insistem em assim chamá-la.

Diante de vários fatos como estes e outros muito mais importantes, foi que A DEBULHA se preocupou em considerar o ano de 1984, como, o “ANO DE PRESERVAÇÃO DA MEMÓRIA PATENSE”, na tentativa de se resgatar o muito que ainda nos resta e quem sabe até, de fazer ressurgir algo do que se perdeu.

* Fonte: Texto publicado com o título “Não Permitir Que se Acabe” na edição n.º 87 de 29 de fevereiro de 1984 da revista A Debulha, do arquivo do Laboratório de História do Unipam.

* Foto: Germanmurillo.com, meramente ilustrativa.

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