RIXA ENTRE COMPADRES

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No tempo da Lagoa dos Japoneses, Leo e Tião, dois carroceiros amigos e compadres, moravam no entorno. Tão amigos, que ambos emplastavam os cabelos com Glostora. O primeiro, proprietário da égua Formosa, residia nas imediações da atual esquina da Rua Major Gote com Avenida Piauí. O segundo, do cavalo Bacamarte, residia ao lado do antigo campo do Tupi. As duas famílias, muito unidas, costumavam se reunir aos domingos para um almoço de confraternização, ora numa casa, ora na outra casa. Mas tinha um porém: o Leo não agradava do Barnabé, 17 anos, filho caçula do compadre, que o considerava meio desmiolado. E quando o rapazola danou a olhar de um jeito meio esquisito para sua filha Margarida, de igual idade, ele não gostou. No que a Margarida também começou a olhar de um jeito meio esquisito para o Barnabé, o trem petecou: os compadres ficaram de mal.

Passou-se um mês e os amigos não mais se visitavam. As comadres faziam de tudo para acabar com a baboseira dos maridos, mas não conseguiam apaziguar os lados. Certo dia, o Leo estava à frente de sua casa quando foi atacado por um cão aparentemente raivoso, pois babava muito. Simplório, já se imaginando contaminado pela raiva, veio-lhe imediatamente uma tremenda bambeira nas pernas. Então, gritou para um dos filhos:

– Tunico, sela num minuto a Formosa que preciso urgentemente ir para o Hospital Regional.

O Tunico respondeu:

– Pai, esqueceu que a Formosa tá com tranquêra no casco?

Sem condições de ir à pé até o Hospital Regional e deixando de lado as agruras com o compadre, mais do que depressa ordenou ao filho que fosse imediatamente pegar emprestado o Bacamarte do Tião. O filho foi, explicou a situação pro Tião, mas o Tião bateu o pé e pouco ligou se o compadre pegou ou não raiva do cachorro. Quando o Leo ouviu, mandou ao compadre através do Tunico um bilhete. Com os olhos esbugalhados, o Tião absorveu as palavras do bilhete:

– Seu fedazunha, se ocê não me emprestar o Bacamarte, o Tunico vai me levar no colo até sua casa e aí, sô, ocê será o primeiro a levar uma bitela duma mordida.

E eis que o Bacamarte levou o Leo ao Hospital Regional. Não se tem notícias se os compadres se reconciliaram.

* Texto: Eitel Teixeira Dannemann.

* Foto: Montagem de Eitel Teixeira Dannemann sobre foto publicada em 02/02/2013 com o título “Avenida Paracatu na Década de 1920”.

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