IDOSA DOS AMENDOINS, A

Postado por e arquivado em CANTINHO LITERÁRIO DO EITEL.

Depois de uma briga fenomenal com a esposa, o motorista de ônibus chega ao ponto do Mercado Municipal no lado da Rua Padre Caldeira para assumir o seu turno. Enquanto esperava sentado naquele banco de cimento, sorumbático, repara numa idosa saboreando uns petiscos que lhe pareceram amendoins. E a idosa repara a tristeza do homem. Experiente em seus aparentes 80 anos de vida, pensa com seus botões:

– Tadinho, vai começar a trabalhar com essa tristeza toda. Com certeza deve ter brigado com a esposa, só pode.

Depois de uns 10 a 15 minutos, o motorista ocupou o seu lugar para iniciar a 1.º viagem do dia rumo ao Alto Colina. Com muita dificuldade e ajuda de outro passageiro, a idosa sentou-se no banco atrás do motorista. E continuou pensando com seus botões, enquanto saboreava seus petiscos:

– Será que foi mesmo briga com a esposa? Ou será que sua filha novinha ficou grávida?

E o ônibus partiu. Ainda na Rua Major Jerônimo, chegando à Praça Champagnat, a idosa novamente pensou com seus botões:

– Ou então descobriu que o filho mexe com drogas. Tadinho!

Já na Avenida Marabá, penosa, resolve oferecer os petiscos ao motorista, que aceita com agrado e ainda comenta:

– Muito gostosos esses amendoins, têm um leve sabor de chocolate.

A idosa comenta que são mais gostosos ainda quando estão cobertos com chocolate. O motorista, após engolir a última porção, pergunta porque ela, então, não compra os que já vem cobertos com chocolate. Serenamente ela explica:

– Eu compro é desses mesmos, é que não consigo mastigar por causa dos meus dentes fracos, então eu fico mexendo eles na boca até acabar o chocolate, e o amendoim eu ofereço a quem queira.

Se houve alguma reação perniciosa por parte do motorista, não se sabe. O que se sabe é que, chegando ao ponto final na Avenida Jequitinhonha, procurou imediatamente um local apropriado para vomitar e não mais viu a idosa e seus lambidos amendoins.

* Texto: Eitel Teixeira Dannemann.

* Foto: Montagem de Eitel Teixeira Dannemann sobre foto publicada em 02/02/2013 com o título “Avenida Paracatu na Década de 1920”.

Compartilhe