Existe motorista de ambulância que tem medo de defunto? Em Patos de Minas existe: o Armênio. Não faz muito tempo, ele foi até o distrito de Pilar recolher um paciente para ser hospitalizado no Regional. Quando encarou a carga, começou a se preocupar: uma senhora de lá seus 80 anos apresentava um quadro aparente de enfarte e precisava ser transportada com urgência. Na casa, só estava o marido, da mesma idade, totalmente chapado. Isso às 10 horas da manhã. Como não havia tempo de esperar a chegada de outros parentes, o Armênio partiu levando o bebum como acompanhante.
O percurso foi penoso para o motorista. Além do falatório desenfreado e chato do pilequento, o que mais lhe aborrecia era a possibilidade da idosa morrer antes de chegar ao Hospital Regional. Aí ele imaginou transportando um defunto, e isso o apavorou. A estrada, como é habitual, estava em péssimo estado, a viagem não rendia, e já próximo da Cidade ele até começou a sentir cheiro de defunto. O homem suava frio, o tonto não parava de falar, a sensação de sentir o cheiro de defunto aumentava até que, enfim, ele estacionou a ambulância na rampa de entrada do Regional. Ufa!
Livre do sufoco e fundamentalmente do bêbado, Armênio levou a ambulância até uma oficina mecânica localizada perto do Batalhão de Polícia, sem saber que não havia se livrado do bêbado. Este, sem condições de acompanhar a esposa no internamento, pegou no sono dentro do veículo e, sem perceber, fecharam-no lá. Logo nos primeiros trancos ele, o bebum, acordou com uma vontade extrema de pitar um cigarro, mas não tinha cigarro. Foi então que, custosamente, abriu a janela lateral e cutucou o braço esquerdo do motorista. Pra que! Quando, já subindo a Avenida Comandante Vicente Torres, o Armênio viu pelo retrovisor aquela mão trêmula lhe apalpando bateu-lhe um desespero tal que ele acelerou fundo, não conseguiu fazer a pequena curva e foi de encontro ao muro do Batalhão.
Foi o fim da carreira de motorista de ambulância para o Armênio, pois, como explicar adequadamente o transporte numa ambulância de um idoso trêbado, sozinho, sem segurança alguma? Não faz muito tempo ele foi visto comercializando laranjas num sacolão da Avenida Brasil.
* Texto: Eitel Teixeira Dannemann.
* Foto: Montagem de Eitel Teixeira Dannemann sobre foto publicada em 02/02/2013 com o título “Avenida Paracatu na Década de 1920”.