Lá no começo da Avenida Tomáz de Aquino, na esquina com a Rua dos Xavantes, fez sucesso a jabuticabeira no quintal da casa do Seu Dionísio¹, naqueles áureos tempos de muros baixos e quintais cercados com arame farpado. Mas o sucesso, só visual, pois Seu Dionísio, sistemático demais da conta, não dava bola para os pidões. Nessa, os vizinhos o apelidaram de Seu Dionísio das Jabuticabas de Ouro. Aquilo o irritava tanto que a toda vez que ouvia ele avisava à esposa:
– Vô cortar esse disgranhento pé de jabuticaba.
De dó, ele não cortou, mas, mesmo repleta de frutos, deu uma poda que não sobrou uma folha sequer. Foi uma tristeza para muita gente, que não concordou com a brutalidade do ato. Os vizinhos, então, em represaria, passaram a chamá-lo de Seu Dionísio da Poda. Aí então o bicho pegou, e o homem ficou mais irritado ainda. E a esposa tentando acalmá-lo:
– Dêxa disso, marido, trem mais bobo, sô, ocê ficá com raiva do povo, é tudo brincadeirinha, acárma, hôme.
E nada do Seu Dionísio se acalmar. Não demorou muito, numa trabalheira que lhe custou uma tarde inteira, ele arrancou a árvore com raiz e tudo. Os vizinhos, ao perceberem, imediatamente passaram a chamá-lo de Seu Dionísio Arrancador. Mais aborrecimentos, mais tentativas da esposa em acalmá-lo:
– Hômi do céu, liga não qui logo êssi povo isquéci essa babosêra.
Seu Dionísio então adubou o local com esterco de égua prenhe, que dizem ser o melhor adubo do mundo, e plantou umas mudas de roseiras. No que ele topou com o primeiro vizinho, veio essa:
– Ôi, Seu Dionísio Rosinha, tudo certím?
Foi a gota d’água. No outro dia, Seu Dionísio e esposa se mudaram para o Bairro Brasil, pertinho da Igreja dos Capuchinhos.
* 1: Leia “Deixarei Saudade − 2”.
* Texto: Eitel Teixeira Dannemann.
* Foto: Montagem de Eitel Teixeira Dannemann sobre foto publicada em 02/02/2013 com o título “Avenida Paracatu na Década de 1920”.