GEMIDOS COMPROMETEDORES

Postado por e arquivado em CANTINHO LITERÁRIO DO EITEL.

Eis que o Jamir conseguiu adquirir a sua casa própria no Bairro Jardim Paulistano, não muito distante de onde funcionou o CEASA. Nada de luxo, ostentação, simplesmente uma moradia digna para a esposa e as duas filhas na pré-adolescência. Ao lado, havia um imóvel disponível para aluguel. Não demorou muito ele foi ocupado por um casal de jovens. O rapaz, um eletricista de nome Manfredo, tratou logo de se apresentar e oferecer os seus serviços. O Jamir aceitou com respeito o cartão de visitas com os telefones da casa e celular do recém-chegado e ficou de ligar quando necessário. Depois de uns seis meses, pouco se falaram. De vez em quando, ele via a jovem esposa do Manfredo levando um poodle melequento para emporcalhar as ruas e calçadas das redondezas. No mais, nada mais e a vida traçou seu rumo. Tudo ia seguindo na tranquilidade até que um dia gemidos comprometedores assuntaram-se nos ouvidos de Jamir e família.

Numa determinada noite de Lua cheia, propícia ao amor, Jamir ficou encucado com os sons que vinham da casa do Manfredo. Não restava a menor dúvida que era uma mulher gemendo. E como gemia. Ora bolas, meu vizinho e sua esposa não são de proporcionar tal tipo de show pirotécnico à cama, pensou com seus botões o Jamir, pois são resguardados e raramente se ouve ruídos vindos de lá. O tempo foi passando e a mulher do Manfredo gemia cada vez mais alto. De vez em quando vinha uma trégua, por pouco tempo, pois logo a gemeção voltava forte. Aquilo foi incomodando o Jamir de tal maneira a ponto de ficar com raiva do eletricista e a pouca vergonha com a esposa. Já passava das onze da noite quando o Jamir pegou o cartão de visitas do Manfredo e resolveu ligar. Ninguém atendeu. E a gemeção continuava de vento em popa. Até que o Jamir não aguentou mais e ligou para o celular do Manfredo. Quando este atendeu, Jamir lascou:

– Pelo amor de Deus, Manfredo, aqui é o Jamir, seu vizinho aqui do lado, vamos parar com essa sacanagem aí na sua casa porque nem eu e nenhum vizinho estamos querendo saber das estripulias sexuais de vocês dois.

– Que é isso, Seu Jamir, já estava pegando no sono, pô, e que negócio…

– Pô digo eu, Manfredo, tenho duas filhas pequenas que estão atentas à essa gemeção aí. Vê se para…

– Que é isso, Seu Jamir, que negócio é esse de estripulias sexuais na minha casa? Eu estou aqui em Paracatu a serviço. Então… Seu Jamir…

* Texto: Eitel Teixeira Dannemann.

* Foto: Montagem de Eitel Teixeira Dannemann sobre foto publicada em 28/02/2013 com o título “Prefeitura em 1916”.

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