LAURINDO E SEU PRESENTE

Postado por e arquivado em CANTINHO LITERÁRIO DO EITEL.

Um empresário com negócios na Avenida JK é bastante conhecido na Cidade pela arrogância exacerbada e ainda por adorar lisonjas e puxa-saquismos, principalmente de seus funcionários e fornecedores. Num determinado ano resolveu promover uma festa na empresa para comemorar seu aniversário, com certeza tendo por objetivo comprovar o quanto era querido por aqueles que lhe eram subordinados. A boca-livre foi anunciada com um mês de antecedência e o patrão determinou que desejava receber apenas os parabéns e nada de presentes caros, apenas lembrancinhas. De prontidão, Laurindo achou bão demais da conta, mas logo lhe veio à mente que estava numa pindaíba disgramada. Ele tinha certeza absoluta que cada um não perderia a oportunidade de entregar pessoalmente seu presente com loas e o escambau. E como conhecia muito bem os coleguinhas de trabalho, cada um ia querer aparecer mais que o outro, por isso não poderia comprar uma lembrancinha qualquer. Nas oportunidades que teve, rodou todo o Centro, o Pátio Central Shopping e não conseguia encontrar algo bom que coubesse no seu orçamento. Até que numa das lojas viu atrás de um balcão uma linda jarra de cristal quebrada em duas partes. Ele sabia de cor e salteado que o patrão adora jarras de cristal. Chamou o vendedor e perguntou:

– O que vão fazer com essa peça?

O vendedor respondeu:

– Jogar fora.

Laurindo agradeceu e foi caminhando até a Praça do Coreto. Sentado, admirando tristemente o estado de abandono da antiga e histórica residência que pertenceu a Arthur Thomaz de Magalhães, o criador do nosso primeiro cinema, ruminou uma ideia:

– Vou dar aquela jarra de presente, quando eu abrir o embrulho faço uma cara de desapontado, olho pro patrão e pergunto quem foi o responsável por quebrar o meu lindo presente.

Resolvido, voltou à loja.

– Ô meu chapa, já que vão jogar fora essa jarra de cristal, dê ela pra mim. Tome aqui uma gorjeta e embrulha pra presente, falou?

O vendedor caprichou no embrulho com uma caixa decorada e um cartão assinado de feliz aniversário. Laurindo saiu da loja feliz da vida, já imaginando que seu presente seria o melhor de todos. Ora, se quebraram o cristal não era problema dele, ah, ah, ah!

A festa estava divertida, até que o patrão chamou a todos para a abertura dos presentes. Laurindo não se continha de tanta ansiedade. E eis que abriu o seu embrulho. Ó quanta surpresa, e ó quanta vergonha: o vendedor da loja, mais do que satisfeito pela boa gorjeta que recebera, caprichou demais da conta e embrulhou as duas partes da jarra em separado.

* Texto: Eitel Teixeira Dannemann.

* Foto: Montagem de Eitel Teixeira Dannemann sobre foto publicada em 10/04/2017 com o título “Jardineira de Pedro Gomes Carneiro”.

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