A cidade de Patos de Minas foi e sempre será repleta de fatos pitorescos que marcam a vida alegre de nossa terra. O Dr. Edson Pinheiro, jornalista dos mais apurados, escreveu várias crônicas e comentários a respeito do engraçado da vida. Teve uma época em que ele tinha um programa noturno na Rádio Clube de Patos onde comentava os tais fatos pitorescos (A Nossa Opinião). Segue um deles.
Boa noite amigos!
Temos focalizado por diversas vezes, o nosso amigo Chilon, o fotógrafo oficial da cidade. Igualmente, temos comentado sua predileção por carros velhos, e já fora de moda. Não é que o Chilon não possa comprar um “último tipo”, pois o homem está com a “erva”…
O próprio Chilon procura se justificar perante os amigos, para a sua predileção por carros velhos. Diz a todos que o interrogam:
– Tenho vários filhos jovens. Preciso incentivar neles o interesse pela mecânica. Carro velho sempre dá oficina, menos os meus. Tenho uma ramona e um Lincoln de 12 cilindros. Podem ver que nunca foram a uma oficina. Meus próprios filhos resolvem a questão, e fazem os consertos necessários. Fruto de tudo, e graças aos calhambeques, é que hoje posso ficar tranqüilo. Lá em casa todo mundo é mecânico.
Assim disse o Chilon.
No fundo, muita verdade, pois não há dia em que não se note um filho seu montado no capô de um dos carros, revirando o motor, como se estivesse fazendo o papel de um cirurgião, a extrair algum coágulo no coração do paciente, dentro de uma sala de operações.
Resultado: o Chilon tanto inspirou os filhos pelo amor à mecânica, que um dia, ou melhor, uma noite, acabou pagando.
O Carlos, que mostrou o mais entusiasmado, e que demonstrou reais pendores para a mecânica, acabou por se transformar também em inventor. E inventou uma máquina “sui generis”, máquina de pegar ladrão… Desconfiado de que sua casa estava sendo rondada pelos amigos do alheio, armou a bicha para funcionar depois de meia noite. Ingredientes: um pedal que ocupava todo o corredor, e que seria pisado por qualquer passante. Uma roldana, que sustentava no alto uma acha de lenha. Se pisassem no pedal, o pau cairia lá de cima, na cabeça do intruso. Certa noite, armou a “máquina” e ficou aguardando o resultado. Meia noite certa, ouviu o maior grito do mundo, e correu certo de que o possível ladrão estava nas malhas de sua máquina… O que encontrou?
Seu pai, o Chilon, que por sorte recebeu a lenha no pescoço, e não na cabeça, por erro de cálculo de seu filho… Resultado final: o Chilon fechou a escola de aprendizagem…
* Fonte:Texto publicado na edição de 12 de julho de 1970 do Jornal dos Municípios, do arquivo do Laboratório de Ensino, Pesquisa e Extensão de História (LEPEH) do Unipam.
* Foto: Arquivo da fundação Casa da Cultura do Milho.