DR. NHÔ QUIRINO

Postado por e arquivado em CANTINHO LITERÁRIO DO EITEL.

Lá para as bandas do distrito de Alagoas, margeando o Córrego Mutuca, localiza-se a fazenda de leite do casal Nhô Quirino e Nhá Chiquinha. Apesar de mal conseguirem escrever os seus nomes, lá criaram com dignidade seus doze filhos, que herdaram dos pais o gosto pelo não estudo, parando no ensino secundário. Por lá casaram e por lá ficaram.

Certo dia, Nhô Quirino, metido a entender mais de animais do que qualquer doutor, proseava com um Médico Veterinário da Cooperativa quando o filho Agenor chegou gritando, o que irritou o velho:

– Ô diacho, num têim cousa qui mi dá mais birra du que gritação. Qui é qui foi, Agenô?

– Pai, a Geruza tá duenti.

– Qui conteceu?

– Sei lá pai, ela num caga desdi ônti.

– Vâmu lá dotô, vâmu vê qui diacho di troço tá aturmentânu a Geruza.

Enquanto o Médico Veterinário fazia uma série de perguntas ao Agenor sobre o manejo diário do animal, Nhô Quirino o mirava com olhos salientes. Depois de muitas conjecturas, o doutor caiu na besteira de dizer-lhe que precisava fazer alguns exames para juntar à sua analise clínica. Ele não perdeu a oportunidade:

– Viu só, Agenô? Num tô falânu, seu mininu, qui ocês num sabi é nada mesmu. Si eu fôssi ocê passava uns longus dias aqui pra prendê a discubri as duença dos animár.

Dando corda ao velho, o Veterinário ficou na dele, ouvindo o sábio Nhô:

– Vê si aprendi essa. Eu vô levantá o rábu da Geruza e ocê vai lá na frenti e abri bem a boca dela.

– Assim está bom?

– Tá bão inté dimais. Cuidado pra num reganhá di vêiz. Agora é o siguinti. Eu tô levantâno o rábu. Chega pertu da boca e óia bem lá no fundu. Tá oiando?

– Estou.

– Bão. Ocê tá mi vendu daí?

– Claro que não, né Nhô Quirino.

– Pódi sortá. Seu minino, já sei o qui ela tem.

– Já fez o diagnóstico, Nhô Quirino?

– Presta tenção i bota êssis miôlu pra funcioná, garotu. Si eu táva cum rabu da Geruza levantado i cum a cara perto du butão da Geruza e ocê na boca dela oiando lá pra dentru e num mi viu só pódi sê uma cousa: Nó nas tripa!

* Texto: Eitel Teixeira Dannemann.

* Foto: Montagem de Eitel Teixeira Dannemann sobre foto publicada em 28/02/2013 com o título “Prefeitura em 1916”.

Compartilhe