QUESTÃO DA TEMPERATURA AMBIENTE NA PRODUÇÃO DE LEITE EM 1906, A

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Afim de sermos uteis aos nossos amaveis leitores, trazendo-lhes diversos conhecimentos relativos á agricultura e aos diversos ramos de industria, vamos publicar alguns dados experimentaes sobre a productividade do leite nas vaccas e as causas que correm para sua formação.

Quando nos estabulos das vaccas leiteiras a temperatura baixa-se o leite soffre, em quantidade, uma notavel diminuição.

Normalmente a temperatura dos animaes domesticos varia entre 37º e 40º gráos centigrados.

A phisiologia nos ensina que o animal produz calor queimando o carbono de seu sangue e este phenomeno se dá em todos os pontos de seu organismo.

Ora a necessidade deste calor renovando-se incessantemente implica em continuo disperdicio de material interno, de modo que sendo elle necessario aos actos da vida, é absolutamente indispensavel que, aos que se dedicam a este ramo de cultura, ponham até certo ponto um obstaculo a esta perda de calorico devido á irridiação.

Estribado nesta lei geral que rege os phenomenos da vida é de conveniencia que se colloquem estes animaes em logar apropriado e cuja temperatura lhes seja adequada e conveniente.

Em um estabulo, por exemplo, onde se mantém as vaccas leiteiras e em que a temperatura está em extremo baixa, o animal cede pelo phenomeno da irradiação uma certa quantidade de seu calor que vae aquecer a athmosphera que o cerca, de modo que o equilibrio da temperatura tende a estabelecer-se entre o meio ambiente e o animal. Nestas condições uma certa porção dos alimentos é queimado em beneficio da producção de leite.

A experiencia de muitos cultivadores tem demonstrado que em egualidade de temperatura a produção do leite durante a noite, é sempre superior á do dia, e que quanto mais baixa é a temperatura tanto menor é a producção do leite. E é conhecido que pequenas differenças na temperatura, entre o dia e a noite, podem fazer diminuir a producção do leite de um e meio a dous litros.

O leite, por sua composição chimica, é muito susceptivel de variar com a temperatura e é assim que o leite elaborado durante a noite é muito mais rico e saudavel do que o elaborado durante o dia e para isto muito concorrem a tranquilidade, a escuridão da noite e a suave e doce temperatura dos estabulos de que tanto apreciam os animaes. Na natureza tudo sendo bem disposto e estabelecido com harmonia não se deve seguir, entretanto, que isto seja em absoluto − est modus in rebus; si as baixas temperaturas são prejudiciaes á producção de leite, os calores excessivos tambem actuam de modo idêntico.

Quando, pois, a temperatura do ambiente attinge alguns gráos acima da que é conveniente, a transpiração cutanea no animal torna-se abundante e o suor que corre, absorve uma certa quantidade de calor para ser reduzido a estado de vapor, havendo nestas condições baixa de temperatura e consequente diminuição do leite. Ahi está uma das causas que não deixam de concorrer para pouca producção do leite nos paizes quentes.

Aquelles, pois, que se dedicam a esta cultura, é conveniente, para della auferirem maior somma de proveitos, luctar contra os rigores da natureza, creando para as vaccas leiteiras uma athmosphera artificial que lhes seja adequada.

* Fonte: Texto publicado com o título “Industria Pastoril” na edição de 18 de novembro de 1906 do jornal O Trabalho, do arquivo da Hemeroteca Digital do Triângulo Mineiro e Alto Paranaíba, via Altamir Fernandes.

* Foto: Popolis.it.

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