FOSFATO, MAIS UMA DESILUSÃO

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TEXTO: JORNAL DOS MUNICÍPIOS (1980)

Em 1975, Patos de Minas sentia a euforia da presença do Presidente Geisel, do Ministro das Minas e Energia Shigeaki Ueky e muitas outras autoridades federais e também do então governador do Estado, Aureliano Chaves, hoje, vice-presidente da República.

Naqueles dias eufóricos, só se falava na descoberta das “fabulosas” jazidas de fosfato de Rocinha. Jornais, revistas, rádio e televisão, focalizaram o evento como marco de redenção para a agricultura brasileira.

Simpósios, conferências, reuniões e cambalachos foram realizados pelo país afora, como mostra irretorquível de que aqui nas terras de Patos de Minas e municípios vizinhos estavam as maiores jazidas de fosfato do mundo. A Usina protótipo de Rocinha foi solenemente inaugurada pelo Presidente Geisel. Foguetes, churrascos, e muita bebida foi oferecida a comitiva e convidados. Um verdadeiro mutirão estava montado para dar sequência as obras de implantação de um parque industrial para se aproveitar o nosso fosfato.

Passados apenas cinco anos, ali está ainda a Usina protótipo. O FHOSNAT – Fosfato In Natura, é o principal produto. Não gera um centavo de benefício material para o município, a não ser alguns empregos braçais.

E, hoje, com tristeza, lemos a notícia de que, a encampação pela Petrobras, das firmas, VALEP, VALEFERT e FOSFERTIL, fará com que a direção e escritórios da futura firma deverá se transferir para Uberaba.

O que se sente, o que se prevê, é que mais uma vez Patos de Minas e a região do Alto Paranaíba foi relegada a segundo plano, marginalizada dos iniciais esquemas de aproveitamento industrial do nosso potencial fosfático.

Existe muita coisa para se contar a nossa gente que, mais uma vez esbarra na desesperança de um empreendimento industrial. Aquilo que há cinco anos era uma das maiores descobertas do gênero de fertilizantes, hoje já se fala com minguadas qualidades de seu aproveitamento industrial. Afinal, com quem estava a realidade dos fatos?

Aonde estão as pesquisas feitas que diziam que o fosfato de Patos de Minas, por ser de origem marítima, era um dos melhores para a agricultura e para o aproveitamento industrial de subprodutos?

Já não se fala que “o fosfato de Patos de Minas é uma aberração geológica” – como exclamou um geólogo da CPRM, ao verificar o teor e a solubilidade do minério fosfático de Rocinha. Afinal, como ficamos nós, uma comunidade inteira que sonhava dias melhores para um município que, sonhando também, calculava ter uma população de 110 mil habitantes? Tantas desesperanças faz a gente se lembrar daquele gostoso sambinha que diz: “Sonhar pra que não adianta não/devemos ter/resignação, porque neste mundo tudo passa/a vida não é mais uma ilusão…”.

* Fonte e foto: Texto publicado com o título “Fosfato de Patos, mais uma desilusão” na edição de 22 de dezembro de 1980 do Jornal dos Municípios, do arquivo da Fundação Casa da Cultura do Milho, via Marialda Coury.

* Edição: Eitel Teixeira Dannemann.

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