O compositor patense Luiz Salgado é marcado por cantar as belezas do cerrado mineiro. Neste ano, ele lançou o quinto álbum de carreira, Quanto Mais Meus Óio Chora, Mais o Mar Quebra na Praia – financiamento coletivo através do sistema Crowdfunding e incentivo cultural da Prefeitura Municipal de Araguari, onde reside e é membro da Academia de Letras – indo além de suas tradicionais raízes.
Dedicado à viola caipira há anos, o artista é parceiro de compositores como Consuelo de Paula, Katya Teixeira, Amauri Falabella, Erick Castanho, Levi Ramiro e Valdir Verona. Além da carreira solo, ele mantém o quarteto 4 Cantos com os paulistas Rodrigo Zanc, Cláudio Lacerda e Wilson Teixeira.
Nas 15 faixas do disco novo, Salgado faz uma ponte entre o cerrado e o mar – ou seja, entre sua referência natal e uma espécie de paixão universal pelas águas salgadas que não dão nas Alterosas.
Alinhado a esta proposta, o músico mistura elementos tradicionais da sua música, como a folia de reis e a cultura africana presentes em Canto Pra Oxalá, passando por toques de reggae em Resistência, até o baião de Suassuna e Sua Sina – orquestrada com cordas impecáveis que dialogam com efeitos modernos e, claro, com a onipresente viola.
Em “Quanto Mais Meus Óio Chora, Mais o Mar Quebra na Praia”, Salgado revela sua intenção com este novo trabalho: o fazer apesar das adversidades e, além disso, levar a nossa cultura do cerrado ao mar, ao além-mar, mostrar seus atentos e lúcidos “óios” de criança, de “pássaro lunar”, aos grandes olhos do mundo. Prova inconteste são as gravações de temas de domínio público como de costume, e músicas de outros ótimos compositores como Marco Aurélio Querubim, Caco Sodré, Cátia de França e Domá da Conceição. Têm também novas parcerias com Xavier Bartaburu, Rodrigo Ferrero e duas músicas feitas com a magnífica Consuelo de Paula.
Seu voo mais alto neste trabalho faz com as participações especiais das cantoras Celmar e Badi Assad, duas grandes compositoras e intérpretes da música brasileira que já circulam livremente com seus cantos e encantos por terras estrangeiras. A digital do Salgado, definida pela viola singular e pela voz marcante do cantador, busca deixar nova impressão ao dialogar com outras vozes, com novas formas de expressão e roupagem neste belo álbum.
Em algumas faixas, sua viola arranjou e se deitou em cama armada pelos violinos de Maria Clara e rabeca de Jefferson Leite, pelos Cellos de Thyago Wolf e teclados de Lucas Roza, o produtor e arranjador do disco junto ao Luiz. Confortavelmente deitou-se, mas não dormiu! Dá o tom e fala. Dialoga harmoniosamente com os grandes percussionistas Jack Will, Dedé Aires, Alex Mororó e Antônio Sabiá, o Toninho, filho do violeiro e da também percussionista Lilian Fulô. Cabe aqui uma referencia ao Toninho Sabiá já como grande percussionista pela estreia marcante, aos sete anos de idade, junto aos grandes e pela certeza de que se tornará mais um destes logo, logo, pelo que vem apresentando.
As guitarras ficaram a cargo de Xande Tannús e Rodrigo Pires; Os baixos por Lucas Roza e Ricieri Nascimento; No acordeon Lucas Viotti; metais, Marcos Mello e Nethynho Danilo. Conta ainda com as participações do ótimo intérprete Claudio Lacerda, do violeiro Arnaldo Freitas e da Cantadeira Dona Maria do Pé do Morro. É ela quem traz Luiz de volta ao cerrado após esta boa viagem.
* Fontes: Texto de Lucas Simões publicado com o título “Entre o cerrado e o mar, por Luiz Salgado” no caderno Magazine da edição de 19 de setembro de 2016 do jornal O Tempo e texto “Luiz Salgado Lança Novo CD”, de Pedro Antônio, em Paginacultural.com.br.
* Foto: Luizsalgado.com.br.