Quando começaram as ações para asfaltar a deficiente estrada que liga a antiga ponte do Rio Paranaíba à BR 365, a movimentação de homens e máquinas despertou a curiosidade do Zé Créu, um senhor de quase 80 anos de idade, representante típico da raça caipira do Cerrado patense. Dizem nas redondezas da Baixadinha, onde o anoso reside numa casinha simples mas honrada à beira da via com sua anosa esposa, que o nome Zé Créu se deve ao fato dos oito casamentos do homem que geraram 23 filhos. Pois bem, quando os trabalhos estavam sendo realizados à porta da residência do Zé Créu, os homens consideraram folclórico o palavreado do capiau. Como o Zé Créu é daquele tipo de puxar assunto até o boi dormir, quanto mais ele falava mais os homens saboreavam aquele linguajar.
– Mas ocêis tá fazendo o que cum esse mundaréu de tranquêra?
Os homens respondiam com toda paciência com as mãos na massa. De vez em quando Nhá Maria, a veneranda esposa do idoso, chegava com um cafezinho quente e uns biscoitos de polvilho, o que muito agradavam os empreiteiros. Enquanto saboreava os agrados, um deles respondeu ao Zé Créu:
– Não sei se o senhor está sabendo, vamos asfaltar essa estrada, o que vai melhorar muito a vida de todos vocês dessa região. Somos engenheiros e estamos fazendo as medições necessárias.
O Zé Créu tirou o cigarro de palha da orelha, acendeu-o com uma daquelas antigas bingas, deu duas baforadas e falou:
Uai credo, sô, vai sê uma trabaêra disgramada. Num sabia disso, qui precisava midi a istrada. Eu sô dôto tempo, e qui era mui mais fáci. Quam nóis quiria fazê ua istrada, nóis custumava sortá um burro véi pelo trecho dondi nóis quiria que a istrada corresse. Intonces, lá ia o burro pelo trecho, e o trecho que o burro fazia era o trecho pra istrada. Aí nós ia, um mundaréu de genti, maiando o trecho que o burro fazia e pronti, estava pronti a istrada.
Foi uma festa para os empreiteiros a fala do Zé Créu. Depois de muito rirem, um engenheiro perguntou:
– Seu Zé Créu, muito engenhoso esse método, mas tenho uma dúvida. E quando vocês não tinham um burro velho, como faziam para construir uma estrada?
O Zé Créu deu mais duas baforadas no cigarro de palha e, com ares de professor, arrematou:
– Ora, treim bobo de muito fáci, sô dotô, quam nóis num tinha burro véi, nessis cásu nóis chamava os engenhêro!
* Texto: Eitel Teixeira Dannemann.
* Foto: Montagem de Eitel Teixeira Dannemann sobre foto publicada em 28/02/2013 com o título “Prefeitura em 1916”.