Nomear ou mudar o nome de logradouro público é uma das funções do vereador. Infelizmente, essa atividade parlamentar provoca abarrotados comichões na turma responsável a fim de homenagear alguém com finalidade baseada em algum interesse político, além da suposta importância social do pretenso homenageado. Os exemplos abundam. Um deles é a Avenida Fátima Porto, nome de uma jovem irmã do ex-prefeito Arlindo Porto Neto, falecida em um acidente de automóvel. Outro é o Restaurante Popular, nomeado Herbert de Souza – “Betinho”. Enquanto uma lista enorme de cidadãos que realmente fizeram algo pelo município são esquecidos, pessoas que nunca cataram um papel de bala nas nossas ruas são homenageadas.
De todos os casos de insensatez, o mais absurdo até o presente momento é o que fizeram com o nome do patriarca da nossa emancipação: Antônio José dos Santos e Formiguinha. No tempo em que vivia o Formiguinha, ele morava numa travessa que ligava o antigo Largo da Matriz (hoje Praça Dom Eduardo) à Rua Tiradentes. Desde o fim do século 19 este trecho era conhecido por Travessa do Formiguinha, justamente porque lá residia o glorioso cidadão. E assim permaneceu por mais de noventa anos, até que em 1967 alguém do poder público se perguntou: – Tem ali uma tal de Travessa do Formiguinha… Quem é este tal de Formiguinha? Provavelmente, só pode ser isso, sem saber quem foi esse tal de Formiguinha, resolveram batizar o trecho com outro nome. Através da Lei n.º 908, de 1.º de junho daquele ano de 1967, a travessa recebeu o nome de Rua Maestro Augusto Borges. É evidente que o venerando maestro merece este tipo de homenagem. Mas não à custa de suprimir da cidade a única referência que existia ao nome do patriarca da emancipação. E assim, até hoje Antônio José dos Santos e Formiguinha continua esquecido pelo poder público.
Pouco menos de um ano após a sandice descrita acima, houve outra trapalhada do poder público, desta vez com uma fragorosa reação popular. Concomitante ao crescimento do Bairro Brasil, as ruas que foram surgindo receberam nomes dos Estados brasileiros, ideia do então vereador Zama Maciel. Naquela época, o famoso comichão de mudar nome de rua abateu sobre os edis quando resolveram homenagear o cidadão Alfredo Alves Barcelos. Para tanto, escolheram, sabe-se lá baseado em que argumento, a Rua Paraná. Assim aconteceu em 22 de fevereiro de 1968, através da Lei n.º 957. A interferência do poder público gerou enorme insatisfação aos moradores. Durante 15 anos o povo chiou, e de tanto chiar, o vereador Ilídio Alves Neto apresentou à Câmara Municipal o Projeto de Lei n.º 31, que retorna o nome de Paraná ao logradouro. A birra dos moradores do bairro era mesmo séria, pois na sessão legislativa do dia 07 de junho de 1983, o vereador Dercílio Ribeiro de Amorim declara:
O Bairro Brasil foi planejado pelo ex-vereador Zama Maciel, que traçou todas as suas ruas, dando-lhes denominação de Estados do Brasil e de seus territórios, de norte ao sul – do Território do Acre ao Rio Grande do Sul. Preocupa-se muito com a mudança de nomes de ruas, mas os vereadores devem atender à vontade do povo. A bancada do PDS afirmou estar com o povo e votará a favor do projeto, porém, em respeito aos mortos homenageados, solicito a suspensão da reunião até o dia 14, a fim de que as bancadas do PMDB e do PDS reunidas, escolham, de comum acordo, outra via pública para receber o nome de Alfredo Alves Barcelos.
O povo venceu e Alfredo Alves Barcelos não deixou de ser homenageado. Poucos dias depois das palavras de Dercílio Ribeiro de Amorim, mais precisamente no dia 22/06/1983, a Lei n.º 1.882 assim determina em seu artigo 1.º: Fica denominada de Rua Paraná a atual Rua Alfredo Alves Barcelos, em toda sua extensão, da Planta Cadastral da Cidade; e a Lei n.º 1.884, da mesma data, assim determina em seu artigo 1.º: Fica denominada de Rua Alfredo Alves Barcelos a via pública situada no Setor 05 da Planta Cadastral desta Cidade, entre as Quadras 23 e 24, com início na Rua Ana de Oliveira e término na Rua Major Jerônimo.
A propósito, Alfredo Alves Barcelos nasceu em Araxá em 08 de agosto de 1882. Veio para Patos de Minas trabalhar no setor de construção civil, tendo participado, entre inúmeras obras, da Catedral de Santo Antônio, Fórum Olympio Borges, Grupo Escolar Marcolino de Barros e Hospital Regional. Faleceu aqui em 17 de dezembro de 1940.
* Texto: Eitel Teixeira Dannemann.
* Fonte: Câmara Municipal de Patos de Minas e Uma História de Exercício da Democracia – 140 Anos do Legislativo Patense, de José Eduardo de Oliveira, Oliveira Mello e Paulo Sérgio Moreira da Silva.
* Foto: Showmyastreet.