FOLGADO FORMIGÃO

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Onde hoje funciona um supermercado na Avenida Brasil, entre as Ruas Doutor Marcolino e Dona Luiza, era uma beneficiadora de arroz. Isso antes do tempo das calças boca de sino. Vire e mexe, mexe e vira, tinha muito caminhão parado em frente para ser carregado ou descarregado. Um fulano que respondia pela alcunha de Formigão, folgado ao extremo, e que de vez em quando, apenas de vez em quando, resolvia conferir se o seu corpo ainda fabricava suor, compareceu para completar uma carga. A finalidade era uma só: garantir uns trocados para a cachaçada do final de semana, pois, afinal, era sexta-feira. E naquela sexta-feira a noitada prometia ser da primeira qualidade no Forró do Nélson, um puxa-faca que funcionava na Rua Ouro Preto, pertinho do Cemitério Santa Cruz.

Formigão se apresentou e foi o primeiro a chegar ao caminhão. Ajeitou o lombo e ficou esperando a saca. Quando o cara ia ajeitar a segunda saca, o malandro já estava longe. Era assim: enquanto os outros chapas carregavam cada um duas sacas, o espertinho só carregava uma. Foi até que os colegas reclamaram com o encarregado:

– Veja só, a gente carrega duas e o cara uma só, não é justo que ele receba o mesmo que nós.

Imediatamente o encarregado chamou o Formigão para uma conversa:

– Ô bacana, por um acaso você sabe como funciona o trabalho aqui?

– Claro, chefia.

– Então me diga por que você carrega apenas uma saca enquanto seus colegas carregam duas.

Formigão não se alterou de modo algum e na maior cara de pau mandou:

– Chefia, estes caras são muito folgados, pois estão querendo acabar logo com o serviço carregando cada um duas sacas para se mandarem o mais cedo possível, enquanto eu tô fazendo um serviço legal, sem pressa, sacou?

Sendo lógico ou não, o encarregado dispensou o Formigão. Foi injusto ou não?

* Texto: Eitel Teixeira Dannemann.

* Foto: Montagem de Eitel Teixeira Dannemann sobre foto publicada em 10/04/2017 com o título “Jardineira de Pedro Gomes Carneiro”.

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