INSENSIBILIDADE MAMÁRIA

Postado por e arquivado em CANTINHO LITERÁRIO DO EITEL.

Toda cidade, seja capital ou do interior, é repleta de bêbados que perambulam pelas calçadas torrando a paciência dos transeuntes. Patos de Minas não é diferente. E aqui tem até mais que as outras no proporcional da população. E tem um que é famoso, principalmente por sempre estar acompanhado da famigerada companheira e um cachorro. Tem momento em que os três aparecem e a gente não sabe discernir quem é o cara e quem é a cara, tamanha a sujeira. Perceberam que deixei o cachorro de fora, certo? É mais do que justo!

Um dia eu estava passando na porta de uma sorveteria ali na esquina da Rua Major Gote com sua colega José de Santana quando me deparei com um amigo sentado num dos bancos externos. Resolvi ficar um pouco para saber as novidades. Ao lado uma moçoila de seus 20 e muitos anos amamentava a sua cria enquanto apreciava o vai-e-vem das pessoas. Como era pouco mais de duas da tarde, o movimento era intenso. Por falar nisso, como tem gente zanzando pelas ruas do centro de Patos de Minas! E no meio desse mundaréu de gente surgiu o malfadado casal encardido e fedido. No que o cara viu a moça amamentando a cria se postou à frente se deliciando com a cena. A companheira amarrou a cara. A moça, inicialmente, não se perturbou. Isso até ele dizer:

– Que lindo!

Ela retrucou:

– Cai fora, desocupado, se manda.

A companheira etílica lascou:

– Ô mané, que negócio é esse?

Ele insistiu:

– Que lindo!

A mamãe:

– Que lindo o que, nunca viu peito?

A companheira:

– Tem dó, mané, tá querendo dizer que estes peitos aí são melhores que os meus?

O desmilinguido alcoólico deu um baita empurrão na amásia, que se afastou pronunciando aqueles palavrões geralmente destinados a juízes de futebol, caprichou numa empinada pra esquerda, pra trás e se firmou. Deu uma pigarreada e lascou:

– Eu é que sou o bêbado, o desocupado né, mas olha só que lindo o seu nenê mamando no botão da blusa.

Sorridente, o mequetrefe virou à esquerda e subiu a Major Gote dizendo:

– Tá tão tonta que não sente nada!

A mocinha não moveu um único cílio. Ajeitou a criança no lugar certo, acabou de amamentar, guardou o seio no seu devido aconchego, levantou e saiu caminhando em direção ao Fórum. Eu, o amigo e os demais presentes demos de ombros e continuamos os nossos afazeres.

* Texto: Eitel Teixeira Dannemann.

* Foto: Montagem de Eitel Teixeira Dannemann sobre foto publicada em 10/04/2017 com o título “Jardineira de Pedro Gomes Carneiro”.

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